Think out / Considere cuidadosamente

 

"For Elohim so loved the world, that He gave His only begotten Son, that whosoever believeth in Him should not perish, but have everlasting life" "Porque Elohim amou o mundo de tal maneira que deu o seu Filho unigênito, para que todo aquele que nele crê não pereça, mas tenha a vida eterna" (John 3:16). "For I am not ashamed of the gospel of Messiah: for it is the power of Elohim unto salvation to every one that believeth; to the Jew first, and also to the Greek" ; "Porque não me envergonho do evangelho do Messias, pois é o poder de Elohim para salvação de todo aquele que crê; primeiro do judeu, e também do grego".(Romans 1:16). "But Elohim commendeth His love toward us, in that, while we were yet sinners, Messiah died for us" ; "Mas Elohim prova o seu amor para conosco, em que o Messias morreu por nós, sendo nós ainda pecadores." (Romans 5:8). "That if thou shalt confess with thy mouth the Adon Yeshua, and shalt believe in thine heart that Elohim hath raised Him from the dead, thou shalt be saved. For with the heart man believeth unto righteousness; and with the mouth confession is made unto salvation. For the scripture saith, Whosoever believeth on him shall not be ashamed. For there is no difference between the Jew and the Greek: for the same ADONAI over all is rich unto all that call upon him. For whosoever shall call upon the name of the ADONAI shall be saved. " ; "A saber: Se com a tua boca confessares a ADON Yeshua, e em teu coração creres que Elohim o ressuscitou dentre os mortos, serás salvo. Visto que com o coração se crê para a justiça, e com a boca se faz confissão para a salvação. Porque a Escritura diz: Todo aquele que nele crer não será confundido. Porquanto não há diferença entre judeu e grego; porque um mesmo é o ADONAI de todos, rico para com todos os que o invocam. Porque todo aquele que invocar o nome de ADONAI será salvo." (Romans 10:9-13). "...Elohim hath given to us eternal life, and this life is in his Son." ; "E o testemunho é este: que Elohim nos deu a vida eterna; e esta vida está em seu Filho".(I John 5:11). "He that hath the Son hath life; and he that hath not the Son of Elohim hath not life." ; "Quem tem o Filho tem a vida; quem não tem o Filho de Elohim não tem a vida". (I John 5:12). For the wages of sin is death; but the gift of Elohim is eternal life through Yeshua HaMashiach Adoneinu" ; "Porque o salário do pecado é a morte, mas o dom gratuito de Deus é a vida eterna, por Yeshua HaMashiach nosso Senhor".(Romans 6:23).

UMA COMUNIDADE JUDAICA NA AMERICA PORTUGUESA

Texto apresentado no Seminário O mundo que o Português criou
UMA COMUNIDADE JUDAICA NA AMÉRICA PORTUGUESA


Leonardo Dantas Silva [(*)]




Perseguidos pela Inquisição, os judeus, disfarçados em cristãos-novos, tentavam estabelecer-se no Brasil onde, em algumas partes, detinham 14% da população economicamente ativa. Quando da Dominação Holandesa (1630-1654), a comunidade do Recife veio a ser conhecida internacionalmente, sendo o seu passado objeto do interesse dos estudiosos dos nossos dias.



A importância dos cristãos-novos e judeus na formação do Brasil colonial é estudada, de forma pioneira, pelo Prof. José Antônio Gonsalves de Mello, a partir da publicação de Tempo dos Flamengos - Influenciada ocupação holandesa na vida e na cultura do Norte do Brasil (1947) e de forma mais pormenorizada em Gente da Nação - Cristãos-novos e judeus em Pernambuco 1642-1654, Recife: FUNDAJ - Editora Massangana, 1989; 2ª ed. Recife: FUNDAJ - Editora Massangana, 1996.




Da Espanha para o mundo


Quando em 1492 os Reis Católicos de Espanha, Isabel e Fernando de Aragão, vieram a expulsar os judeus sefardins do seu território, parte das famílias transferiu-se para Portugal. A paz durou pouco, pois já em 1497, D. Manuel, Rei de Portugal, obrigou o batismo cristão de todos os judeus, criando assim a figura do cristão-novo, determinando a expulsão daqueles que não viessem a adotar a religião católica romana. Assim, segregados em determinadas áreas urbanas e obrigados a adotar uma nova religião, os judeus permaneceram em terras do Portugal continental e em terras de além-mar, alguns praticando às escondidas rituais da Lei Mosaica, até 1536, quando da implantação do Tribunal do Santo Ofício da Inquisição.

Temendo o poder da Inquisição, responsável por milhares de vítimas quando de sua atuação na Espanha, a gente da nação, como também eram chamados os judeus, iniciou a sua dispersão em busca de outras terras. Em 1537, Carlos V autorizou a instalação de alguns deles em Antuérpia; em 1550, Henrique V, de França, permite o estabelecimento de homens de negócios e "outros portugueses cristãos-novos" [sic] em cidades francesas, dando assim origem aos grupos conversos de Bordéus, Baiona, Tolosa, Nantes, Ruão; que só viriam a ser reconhecidos como membros da comunidade judaica no séc. XVIII. Na década de 1590, iniciou-se a migração da França para Hamburgo e Amsterdam, cidades onde vieram a se fixar. Outros, porém, movidos pela aventura e pela possibilidade de enriquecimento fácil, vieram tentar a sorte no Brasil, onde chegaram a integrar uma considerável parte da população, estimada em 14% na capitania de Pernambuco.




Cristãos-novos em Pernambuco


Em Pernambuco, a primeira presença documentada de cristãos-novos, com animus de fixar permanência, data de 1542 quando da doação das terras a Diogo Fernandes e Pedro Álvares Madeira, nas quais pretendiam erguer o Engenho Camarajibe. O primeiro, originário de Viana do Castelo, era marido de Branca Dias, então respondendo processo por práticas judaizantes perante o Tribunal do Santo Ofício de Lisboa só se transferindo para o Brasil por volta de 1551; o segundo, talvez oriundo da Ilha da Madeira, era especialista no fabrico de açúcares.

Em 1555, um ataque dos índios destruiu as suas plantações, o que motivou carta de Jerônimo de Albuquerque, cunhado do primeiro donatário então no governo da capitania, ao Rei de Portugal, pedindo auxílio para Diogo Fernandes, "gente pobre de Viana", então com seis ou sete filhas e dois filhos, que, com sua mulher Branca Dias, vieram a ser acusados de práticas judaizantes anos mais tarde.

Além desses, outros cristãos-novos tornaram-se senhores de engenho em Pernambuco, permanecendo também como mercadores, atividade peculiar dos judeus por todo o mundo. Outros, porém, se transformaram em rendeiros na cobrança dos dízimos e faziam empréstimos, sendo denunciados como onzeneiros, isto é, agiotas, como o James Lopes da Costa, João Nunes Correia e Paulo de Pina (I). Grande parte deles dedicava-se ao comércio de exportação de açúcares, indústria que se encontrava em franco desenvolvimento na capitania. Alguns chegavam muito jovens e, com a exportação desse produto, se transformavam em representantes das grandes famílias de capitalistas da época, como João da Paz, sobrinho de Miguel Dias Santiago, e Duarte Ximenes, ligado por laços de parentesco aos Ximenes de Aragão, grandes comerciantes de Antuérpia.

Um deles, James Lopes da Costa, o mesmo que aparece em 1591 como onzeneiro (Denunciações), era senhor do Engenho da Várzea, tendo-se transferido para Lisboa, residência de sua mulher e filhos, e de lá para Amsterdam, onde se encontrava em 1598. Nesta cidade, conhecida como a Jerusalém do Ocidente, declarou-se judeu passando a usar o nome de Jacob Tirado, e aí fundou a primeira sinagoga portuguesa daquele grande centro, chamada Bet Yahacob (Casa de Jacob). Era natural do Porto (Portugal), tendo nascido em 1544, transformando-se, assim, num dos mais ilustres membros da comunidade de Amsterdam. Nesta cidade foi alvo de significativa homenagem do rabino alemão Uri Phoebus Halevi, que dedicou-lhe o seu livro ali editado em 1612.

Foi ainda James Lopes da Costa que, em 1615, constituiu um grupo de quinze judeus portugueses, a Santa Companhia de Dotar Órfãs e Donzelas, mais conhecida entre os sefardins pela sigla Dotar, no qual foram acrescidos os nomes de quatro judeus ausentes, dois dos quais residentes em Pernambuco, João Luís Henriques e Francisco Gomes Pina.

No final do século XVI, quando da Primeira Visitação do Santo Ofício às partes do Brasil (1593-95), era considerável o número de cristãos-novos em Pernambuco. Numa amostragem com base nos depoimentos, constantes das denunciações e confissões, pode-se estimar em 14% da população desta capitania.




No tempo do Visitador


Estava a capitania duartina em sossego quando, em 21 de setembro de 1593 desembarca no Arrecife, como era então chamado o Recife, porto por excelência de Pernambuco, o visitador do Santo Ofício Heitor Furtado de Mendoça (sic) e seus oficiais que vinham da capitania da Bahia.

O inquisidor demorou-se no Arrecife até o dia 24, quando lhe foi mandado de Olinda um bergantim que o conduziu, pelo rio Beberibe, até o Varadouro onde já estava a sua espera uma grande comitiva, tendo à frente o Dom Felipe Moura, então no governo da capitania, e o licenciado Diogo do Couto, ouvidor da vara eclesiástica, com muitos clérigos, o ouvidor-geral do Brasil, Gaspar de Figueiredo Homem, e demais pessoas gradas, além das companhias e bandeiras dos regimentos militares.

Ao desembarcar no Arrecife, como ele denomina no termo de abertura da Primeira Visitação do Santo Ofício às partes do Brasil , cuja edição conjunta com as Denunciações e Confissões foi editada pelo autor destas notas em 1984 (Coleção Pernambucana, 2ª fase v. 14), o inquisidor pôde comprovar a grandeza da capitania, que em 1584 fora objeto de carta do jesuíta Fernão Cardim, na qual afirmara possuir Pernambuco, entre outras coisas, 60 engenhos com uma produção correspondente a 200 mil arrobas, sendo o seu porto visitado anualmente por mais de 45 navios.

Tal riqueza já fora observada por Gabriel Soares de Sousa (1540 - 1591), em seu Tratado Descritivo do Brasil em 1587 , no qual relata possuir Pernambuco "mais de cem homens que têm até cinco mil cruzados de renda, e alguns até oito, dez mil cruzados. Desta terra saíram muitos homens ricos para estes reinos que foram a ela muito pobres, com os quais entram cada ano desta capitania quarenta e cinqüenta navios carregados de açúcar e pau-brasil, o qual é o mais fino que se acha em toda a costa; e importa tanto este pau a Sua Majestade que o tem agora novamente arrendado por tempo de dez anos por vinte mil cruzados cada ano. E parece que será tão rica e tão poderosa, de onde saem tantos provimentos para estes reinos que se devia ter mais em conta a fortificação dela, e não consentir que esteja arriscada a um corsário a saquear e destruir, o que se pode atalhar com pouca despesa e menos trabalho". - O vaticínio viria tornar-se realidade em 1595, por ocasião da invasão de corsários ingleses, e em 1630, quando da invasão holandesa.

A presença de um representante da Inquisição de Lisboa veio revelar aspectos da vida privada dos habitantes de Pernambuco, Itamaracá e Paraíba, naquele final de século XVI. Não mais a descrição da terra, como nas crônicas dos viajantes e cartas jesuíticas, mas o dia-a-dia de cada um que, sob ameaças de penas espirituais, trazem para os autos ricas narrativas com respeito às relações familiares, à vida sexual, filhos legítimos, legitimados e bastardos, à prática da prostituição e de adultério, casos de bigamia, pecados sexuais contra a natureza, batizados, casamentos, festas de igreja, ensino de primeiras letras, tarefas domésticas, à vida no campo e na vila, maneiras de trajar, sistemas de transporte, alimentação, práticas de feitiçarias, procedência do elemento escravo, tanto negro como índio, aos primeiros advogados, médicos, boticários, às manifestações de música e teatro, à luta contra os índios e contra os corsários James Lancaster e João Verner, que aportaram no Recife em 24 de março de 1595.

A presença do visitador Heitor Furtado de Mendoça (sic), em Pernambuco, foi a primeira investida da Congregação do Santo Ofício na fiscalização do comportamento dos seus habitantes nos primeiros anos da colonização. A propósito de investigar práticas judaicas, entre cristãos-novos e velhos aqui radicados, alguns deles fugidos dos tribunais da Inquisição de Lisboa, tal devassa veio a revelar costumes outros, segredos guardados a sete chaves pela sociedade de então.

Quanto às práticas judaizantes, os depoimentos dão conta da presença do casal Diogo Fernandes e Branca Dias, responsáveis pela instalação de uma sinagoga em terras do Engenho Camarajibe. Embora o casal não mais pertencesse ao mundo dos vivos, as denúncias terminaram por implicar alguns dos seus descendentes. Dos filhos de Diogo Fernandes com Branca Dias havia vivos, em 1595, Jorge Dias da Paz (morador na Paraíba), Andresa Jorge, Beatriz Fernandes, que tinha os apelidos de "Alcorcovada" e "Velha", além de uma filha adulterina do marido, havida em uma criada da casa, de nome Brijolândia Fernandes. Desses, Beatriz Fernandes (Processo n.º 4580), Andresa Jorge (Processo n.º 6321), com uma filha e três sobrinhas, Beatriz de Souza, Filipa da Paz. Ana da Costa Arruda e Catarina Favela (Processos n.º 4273, 11.116, 2304), além de Brijolândia Fernandes (Processo n.º 9417), são levados presos a Lisboa e lá respondem processos nos cárceres da Inquisição, cujos autos ainda se conservam no Arquivo Nacional da Torre do Tombo, não chegando, contudo, nenhum deles a ser condenado à morte na fogueira.
As atividades da Inquisição, iniciadas em Lisboa em 1540, prolongaram-se até 1821, quando veio a ser abolida por decreto das Cortes Portuguesas, datado de 31 de março daquele ano. "O terrível tribunal do Santo Ofício, na observação de Pereira da Costa, durante o tempo da sua existência celebrou nos quatro distritos de Lisboa, Évora, Coimbra e Goa, 760 autos-de-fé, em que figuraram 31.349 vítimas, das quais 1.075 foram relaxadas em carne (mortas nas fogueiras) e 638 queimadas em estátua por se acharem ausentes em países estrangeiros onde não podia chegar a autoridade da Inquisição. Nas vítimas da Inquisição, figuram 339 infelizes remetidos do Brasil, alguns dos quais pereceram nas chamas". ( Anais Pernambucanos , v. 7 p. 275).




O autor da Prosopopéia


Com a fundação do Colégio dos Jesuítas em Olinda (1551), surge em Pernambuco um centro educacional que viria a formar as gerações, não somente na iniciação à alfabetização e ao catecismo da doutrina cristã, bem como nos rudimentos da matemática, mas também no latim, na filosofia e na moral, matérias estas cujas aulas tiveram início em julho de 1568 pelo padre João Pereira. Em 1800 o prédio do antigo Colégio dos Jesuítas vem a ser ocupado pelo Seminário Episcopal de Nossa Senhora da Graça, cujos Estatutos foram elaborados pelo bispo D. José Joaquim da Cunha de Azeredo Coutinho (Lisboa: Tipografia da Acad. R. das Ciências, 1798), com a finalidade de instruir "a mocidade em todos os seus principais ramos da literatura, própria não só de um eclesiástico, mas também de um cidadão que se propõe a servir ao Estado". O seminário, chamado pelo cônego Barata de "escola de heróis", veio a ser o principal propagador do ideário ilusionista dos filósofos franceses nas capitanias do Norte do Brasil.

Também na segunda metade do século XVI atuaram em Pernambuco dois mestres-escolas leigos, ambos cristãos-novos: Branca Dias, que mantinha uma escola para moças, e Bento Teixeira, um erudito que atuou como mestre-escola em Olinda, Igaraçu e Cabo. Também em Pernambuco residiu por muitos anos o também cristão-novo Ambrósio Fernandes Brandão, proprietário de terras em São Lourenço da Mata (Denunciações e Confissões de Pernambuco p. 231 e 260), que em 1618 veio a escrever o livro Diálogos das Grandezas do Brasil (Recife: Imprensa Universitária, 1962), um dos mais importantes relatos sobre a flora, fauna, paisagem e vida econômica do país naquele primeiro século de sua colonização, obra hoje de consulta obrigatória pelos estudiosos dos mais diversos misteres.

Bento Teixeira é o autor da primeira obra poética produzida no Brasil que veio a alcançar as honras do prelo, Prosopopéia, escrita em Pernambuco, entre 1585-94, e publicada em Lisboa (1601) com a dedicatória a "Jorge de Albuquerque Coelho, Capitão e Governador de Pernambuco", numa produção da oficina de Antônio Álvares.

Que eu canto um Albuquerque soberano
Da fé, da cara pátria firme muro,
Cujo valor é ser que o céu lhe inspira,
Pode estancar a lácia e grega lira.

Diogo Barbosa Machado (1682-1772), em sua Biblioteca Lusitana (Lisboa 1741), declara ser Bento Teixeira, a quem ele acresceu o sobrenome "Pinto", natural de Pernambuco, dando causa à repetição de um erro que se arrasta ao longo de dois séculos. Somente em 1960, quando da publicação do seu livro Estudos Pernambucanos (Recife: Imprensa Universitária; 2ª ed. Recife: Fundarpe, 1986), coube ao historiador José Antônio Gonsalves de Mello esclarecer a real naturalidade do poeta Bento Teixeira. Ao compulsar o processo n.º 5206 da Inquisição de Lisboa (ANTT), em que aparece como réu um Bento Teixeira originário de Pernambuco, em seus depoimentos ele se declara natural da cidade do Porto (Portugal) onde nascera em cerca de 1561.

Em meio desta obra alpestre e dura,
Uma boca rompeu o mar inchado
Que na língua dos bárbaros escura,
Paranambuco de todas é chamada:


De Pará, no que é mar; Puca, rotura,
Feita com a fúria desse Mar Salgado,
Que sem derivar, cometer mingoa,
Cova do Mar se chama em nossa lingoa.
Prosopopéia

Nos seus diversos depoimentos, ele afirma ser natural da cidade do Porto (Portugal), de onde saiu com a idade de cinco para seis anos para o Brasil em companhia dos seus pais. Fixando-se inicialmente no Espírito Santo (c 1567), matriculou-se na escola dos padres jesuítas com os quais veio a continuar os seus estudos na Bahia. Em 1579, já tendo concluído os seus estudos com os jesuítas, transferiu-se para a capitania dos Ilhéus onde casou-se com Filipa Raposa. Anos mais tarde (1584) fixou-se na vila de Olinda, onde abriu uma escola para meninos na rua Nova (a principal da vila). Por dificuldades financeiras transfere-se para a vila de Igaraçu (1588), onde além de mestre-escola exerceu as funções de advogado, cobrador de dízimos e contratador de pau-brasil. Pelos freqüentes adultérios de sua mulher, Filipa, viu-se obrigado a transferir-se para o Cabo de Santo Agostinho onde, em dezembro de 1594, vem a cometer o uxoricídio. Fugindo da justiça, vem refugiar-se no Mosteiro de São Bento (Olinda). Por essa época chega a Pernambuco o visitador do Santo Ofício Heitor Furtado de Mendoça, sendo o cristão-novo Bento Teixeira denunciado por práticas judaizantes. Preso em 19 de agosto de 1595 é embarcado, juntamente com outros réus, para os cárceres do Santo Ofício em Lisboa, onde por mais de quatro anos passa por sofrimentos e privações. Solto em 30 de outubro de 1599, aos 40 anos de idade, padecendo de uma tuberculose, por motivos ignorados volta à cadeia de Lisboa, conforme atesta o médico João Álvares Pinheiro, a 9 de abril do ano seguinte. Do seu processo nada mais consta, a não ser esta anotação na capa: "É falecido Bento Teixeira e faleceu andando com a penitência em o fim de julho de 600".


Ó Sorte, tão cruel, como mudável,
Por que usurpas aos bons o seu direito?
Escolhes sempre o mais abominável,
Reprovas, e abominas o perfeito,
O menos digno, fazes agradável,
O agradável mais, menos aceito...
Ó frágil, inconstante, quebradiça,
Roubadora dos bens, e da justiça.
Prosopopéia

Bento Teixeira, erudito dos mais brilhantes do seu tempo, conhecedor dos clássicos, do latim e de outras línguas, dado a fazer trovas e sonetos, foi o autor do poema épico, Prosopopéia, editado nas oficinas do impressor Antônio Álvares, "o primeiro escrito no Brasil a merecer as honras do prelo", infelizmente publicado no ano seguinte ao da sua morte: 1601.




Invasão Holandesa


A riqueza da capitania de Pernambuco, bem conhecida em todos os portos do Velho Mundo, veio a despertar as atenções dos Países Baixos que, em guerra com a Espanha, sob cuja coroa estava Portugal e suas colônias, necessitava de todo açúcar produzido no Brasil para suas refinarias (26 só em Amsterdam). Com o insucesso da invasão da Bahia (1624), onde permaneceram por um ano, mas com o valioso apoio de Isabel da Inglaterra e Henrique IV da França, rancorosos inimigos da Espanha, a Holanda, através da Companhia das Índias Ocidentais, formada pela fusão de pequenas associações, em 1621, cujo capital elevara-se, em pouco tempo, a 7 milhões de florins, voltou o seu interesse para Pernambuco.

A produção de 121 engenhos de açúcar, "correntes e moentes" no dizer de van der Dussen, viria a despertar a sede de riqueza dos diretores da Companhia, que armou uma formidável esquadra sob o comando do almirante Hendrick Corneliszoon Lonck, que, com 65 embarcações e 7.280 homens, apresentou-se nas costas de Pernambuco em 14 de fevereiro de 1630.

Matias de Albuquerque, governador da capitania, procurou concentrar os seus esforços da defesa do Recife, mas o general holandês Theodoro Weerdenburch, seguindo o que fora planejado na Holanda, desembarcou as forças terrestres na praia do Pau Amarelo e no comando de um exército de 3.000 homens marchou sobre Olinda.

No combate do Rio Doce, venceu as tropas de Matias de Albuquerque tomando conta de Olinda. Recolhendo-se ao Recife, onde a defesa estava sob o comando de Antônio Lima e não suportando o ataque por terra e mar, o general Matias de Albuquerque determinou o incêndio de 24 navios surtos no porto, carregados de oito mil caixas de açúcar, algodão, pau-brasil e tabaco --"que tudo valeria bem um milhão e seiscentos mil cruzados"-- e retirou-se para o interior, onde a 4 de março fundou o Arraial do Bom Jesus [na atual Estrada do Arraial], iniciando, assim, a chamada guerra da resistência. A dominação holandesa prolongou-se por 24 anos, passando o Recife de simples porto de Olinda a capital da nova ordem.




A guerra de resistência


Senhores da terra, os holandeses escolheram o Recife como sede dos seus domínios no Brasil, por ter nesta praça a segurança que não dispunham em Olinda, "por ser aberta por muitas partes e incapaz de defesa", na observação de Diogo Lopes Santiago ( História da Guerra de Pernambuco ). Na noite de 25 de novembro de 1631, resolveram os chefes holandeses pôr fogo na sede da capitania de Pernambuco, "a infeliz vila de Olinda tão afamada por suas riquezas e nobres edifícios, arderam seus templos tão famosos, e casas que custaram tantos mil cruzados em se fazerem" (Santiago).

Em Olinda, cujos costumes e paisagem foram tão bem descritos pelo Frei Manuel Calado , "tudo eram delícias e não parecia esta terra senão um retrato do terreal paraíso" (O Valeroso Lucideno). Mas a segurança para Waerdenburch e demais chefes holandeses falava mais alto, daí fixar-se no Recife e na ilha de Antônio Vaz que "são lugares próprios para, com oportunidade, fundar-se uma cidade" e "penso que ninguém que da Holanda vier para aqui quererá ir morar em Olinda" (Adolph van Els), sendo proibidas quaisquer construções no perímetro urbano da antiga capital.
Observa José Antônio Gonsalves de Mello que "uma população enorme, calculada em mais de 7.000 pessoas, teve de se comprimir no Recife e em Antônio Vaz [áreas hoje ocupadas pelos bairros do Recife e de Santo Antônio]. Aí as casas eram em número insuficiente e muitos dos armazéns tinham sido incendiados" ( Tempo dos Flamengos ).

Matias de Albuquerque, por seu turno, "com o desespero no coração, recolhia-se com alguns valentes companheiros, senhores de engenho da capitania, para um lugar na várzea [do Capibaribe] situado a uma légua do Recife e de Olinda, ponto por ele fortificado com quatro peças [canhões] e duzentos homens" (Oliveira Lima). Estava assim iniciada a guerra de resistência com a fundação do Arraial do Bom Jesus [parte do local é hoje ocupado pelo Sítio Trindade, na Estrada do Arraial], onde por cinco anos, utilizando-se das táticas da guerrilha, os da terra puderam combater o invasor, obstando as comunicações, reduzindo suas forças, envolvendo-o "num apertado semicírculo, onde sentiam duramente a falta de madeiras e víveres frescos".

Ao Arraial do Bom Jesus compareceram com seus comandados Luís Barbalho e Martim Soares Moreno, Felipe Camarão com seus índios e Henrique Dias com os seus negros, resolutos em manter uma guerra diuturna que veio a incutir na gente de Pernambuco o sentimento do nativismo.

No Recife, um conselho político da Companhia das Índias Ocidentais, formado por Pieter van Hagen, Johan de Bruyne, Servaes Carpentier e Johanes van Walbeeck, determinou que 7.000 homens comandados pelo general Jonkheer Diederick van Waerdenburch realizassem incursões contra os redutos portugueses na Paraíba (Cabedelo), Rio Grande do Norte (Reis Magos) e Cabo de Santo Agostinho (Nazaré), não tendo este sido feliz em suas tentativas.

Em abril de 1632, porém, a sorte parece sorrir para os holandeses: Domingos Fernandes Calabar, um mestiço acusado de contrabando, se passa para o lado dos invasores. Profundo conhecedor da região, habituado à guerrilha, logo desperta a atenção dos chefes holandeses que souberam apreciar-lhe as habilidades, dar-lhe uma tratamento diferenciado na sociedade de então e recompensar-lhe os serviços. Com a sua ajuda foram tomadas as vilas de Igaraçu (1632), Rio Formoso (1633), Itamaracá (1633), Rio Grande do Norte (1633) e Nazaré do Cabo (1634). Com as novas tropas chegadas da Holanda, as quais vieram a elevar o efetivo militar para 4.000 infantes e 1.500 marinheiros, apoiados por 42 embarcações, contando com o comando do polonês Cristóvão Arcizewsky, o alto comando holandês vem a conquistar finalmente as capitanias do Rio Grande do Norte, Paraíba e Itamaracá. As tropas portuguesas ficaram limitadas ao Arraial do Bom Jesus, ao forte de Nazaré do Cabo e ao atual estado das Alagoas, defendido em Sirinhaém por Matias de Albuquerque. O Arraial do Bom Jesus, sitiado durante três meses e três dias, pelas tropas de Arcizewsky veio a capitular em 6 de junho de 1635: "porque afinal faltou tudo o que servia de sustento; consumiram-se cavalos, couros, cães, gatos e ratos, com que se alimentavam. E quando ainda houvesse algumas dessas imundas coisas, não existia mais pólvora, nem qualquer munição" ( Memórias Diárias ).
Cansado e extenuado, Matias de Albuquerque inicia uma marcha para a Bahia à frente de uma tropa de 140 homens brancos, acrescida dos negros de Henrique Dias e dos índios de Felipe Camarão, com a qual em 19 de julho veio a tomar a vila de Porto Calvo, então sob o poder das tropas do comandante Alexandre Picard, que tinha sob suas ordens quatro companhias com 400 militares. Por ocasião da rendição foi entregue como prisioneiro Domingos Fernandes Calabar, que veio a ser condenado à morte por garroteamento em 22 de julho. Sabendo que as tropas de Arcizewsky viriam ao seu encalço, Matias de Albuquerque continuou sua marcha, levando na vanguarda sete a oito mil civis pernambucanos cujo pânico fez empreender tão penosa caminhada.




Governo de Maurício de Nassau


Se o governo do Brasil Holandês ia mal, em face dos insucessos provocados pela resistência dos portugueses e naturais da terra, e os seus responsáveis, geralmente pouco experientes e inclinados ao abuso, não auferiam os lucros esperados, o mesmo não se pode dizer do comércio estabelecido no Recife, cuja prosperidade tornava o seu porto tão importante como o de Amsterdam sendo centro de organização de expedições e paragem de frotas com destino às Índias ( Memórias Diárias ).

Grande parte deste comércio era entregue a comerciantes judeus, que aqui estabeleceram a primeira comunidade judaica organizada das três Américas. Na observação de Frei Manuel Calado, os judeus logo se tornaram os grandes proprietários urbanos e rurais da conquista, "tanto era o dinheiro de prata e ouro, que até os negros traziam dobrões nas mãos". Com a vantagem de falar a língua holandesa e de manter estreitas relações com os cristãos-novos brasileiros, alguns deles já assumidos na sua condição, os judeus, além do comércio, atuavam como senhores de engenhos, cobradores de impostos e dedicavam-se ao tráfico de escravos da costa da África.

Apesar de senhores da terra, os Conselheiros da Companhia das Índias Ocidentais não pareciam satisfeitos com a administração dos seus diretores no Brasil. Daí surgiu a necessidade da contratação de um administrador civil e militar, caindo a escolha no conde João Maurício de Nassau-Siegen para o posto de governador-geral. Com trinta e três anos de idade, educado em universidades européias, testado nas guerras de Flandres, o futuro príncipe era a pessoa ideal para estabelecer a paz na conquista e desenvolver a agricultura. Chegando a Pernambuco a 23 de janeiro de 1637, o conde trouxe consigo a mais importante missão científica que até então pisara em terras da América, ainda hoje objeto de atenção de todos que se dedicam ao estudo daquele período. Na ocasião fazia-se acompanhar do latinista e poeta Franciscus Plante, do médico e naturalista Willem Piso, do astrônomo e naturalista George Marcgrave, dos pintores Frans Post e Albert Eckhout, do médico Willem van Milaenen, do humanista Elias Herckmans, aqui encontrando os artistas amadores Zacharias Wagener e Gaspar Schmalkalden, tendo incorporado posteriormente à missão o cartógrafo Cornelis Sebastianszoon Golijath e o arquiteto Pieter Post.

Na administração de João Maurício de Nassau um surto de progresso tomou conta do Brasil Holandês, cujas fronteiras foram estabelecidas do Maranhão à foz do Rio São Francisco. O Recife, "coração dos espíritos de Pernambuco" na observação de Francisco de Brito Freyre, veio a sofrer inúmeros melhoramentos e testemunhar vários pioneirismos, como a instalação do primeiro observatório astronômico das Américas. Uma nova cidade veio a ser construída na ilha de Antônio Vaz, onde os franciscanos haviam estabelecido em 1606 o convento de Santo Antônio. A nova urbe, projetada por Pieter Post, veio a receber a denominação de Cidade Maurícia, em 17 de dezembro de 1639, a Maurits Stadt dos holandeses; cujos mapas, aspectos e panorama (94 x 63 cm.) aparecem na obra de Gaspar Barlaeus, publicada em Amsterdam (1647), e em outras produções artísticas de sua época.

A produção do período vem a se desenvolver em outros centros, com a publicação de memórias, mapas, livros científicos e uma infinidade de pinturas, desenhos e gravuras diretamente ligadas ao Brasil holandês, hoje espalhados por bibliotecas, galerias, museus e coleções particulares de todo o mundo.

Aos melhoramentos urbanísticos, inclusive a construção dos palácios das Torres (Friburgo) e Boa Vista, de um horto zoobotânico, de canais e viveiros, a instalação de duas pontes em grandes dimensões, a primeira ligando o atual bairro do Recife à nova cidade e a outra ligando esta ao continente, vieram juntar-se os trabalhos dos artistas que faziam parte da comitiva. Uma intensa produção de uma arquitetura não religiosa, de pinturas e desenhos documentando a paisagem, urbana e rural, retratos, figuras humanas e de animais, naturezas mortas, serviram para documentar e divulgar esta parte do Brasil em todo o mundo. Estudos sobre a flora, fauna, a medicina e os naturais da terra, bem como observações astronômicas e um detalhado levantamento cartográfico da região, dizem da importância da presença do conde João Maurício de Nassau à frente dos destinos do Brasil Holandês.

Ao retornar aos Países Baixos em maio de 1644, este nobre alemão, nascido em Dillenburgo a 17 de agosto de 1604 e falecido nos arredores de Cleve (Berg und Tal) em 20 de dezembro de 1679, deixou definitivamente o nome do Recife registrado na cartografia do seu tempo: no mais antigo mapa do Paraguai, elaborado entre 1645-49 pelo padre Vicente Caraffa, o Recife aparece como meridiano zero.








A nação judaica


Quando da tomada de Pernambuco pela força das armas das tropas holandesas, financiadas pela Companhia das Índias Ocidentais, e consolidação das fronteiras do Brasil Holandês, após a vitória contra os naturais da terra em 1635, mais de 7.000 pessoas vieram morar na estreita faixa de terra da zona portuária do Recife.

Acentua José Antônio Gonsalves de Mello que "ocupado Pernambuco pelas armas da Companhia das Índias Ocidentais muitos cristãos-novos, que aqui moravam, declararam-se publicamente judeus, fazendo-se circuncidar. Possivelmente essa confissão de fé que secretamente professavam foi feita quando da consolidação da conquista, no início de 1635. Essa decisão foi possível graças à concessão de liberdade de consciência pelos Estados Gerais dos Países Baixos. No 'Regimento do governo das praças conquistadas ou que foram conquistadas' concedido pelos Estados à Companhia das Índias Ocidentais, datado de Haia, 13 de outubro de 1629, permitia-se aos que residiam nas terras onde se viesse a estabelecer a soberania holandesa, quer fossem espanhóis, portugueses e nativos, católicos ou judeus, 'que não sejam molestados ou sujeitos a indagações em suas consciências ou em suas casas particulares'"( Gente da Nação p. 212-213).

A tomada de Pernambuco ecoou como uma boa-nova e veio a despertar a atenção dos judeus portugueses (sefardim) e alguns outros migrados da Polônia e da Alemanha (ashkenazim), residentes na Holanda, que logo se apressaram em vir tentar a sorte em terras do Nordeste do Brasil. A situação desses judeus, estabelecidos em Amsterdam e em outras localidades dos Países Baixos, era, por vezes, de extrema penúria, como bem demonstra Elias Lipiner, em artigo publicado na revista Comentário. Rio, 1972. ano XIII nº 50 p. 53-82.:

A liberdade religiosa concedida aos judeus na Holanda atraía para esse asilo os fugitivos da Inquisição em número constantemente crescente. Aumentava, em conseqüência, na mesma proporção, a quantidade de pessoas necessitadas. Cabe lembrar aqui que entre as associações judaicas existentes em Amsterdam nos séculos XVII e XVIII, a maioria visava ao socorro dos pobres. As denominações hebraicas destas associações revelavam as suas finalidades beneficentes: Avi-Ydthomim (Pai dos Órfãos), Avodáth-Hakhéssed (Ação Caritativa), Baalé-Zedaká (Os Benfeitores), Bikúr-Kholim (Auxílio aos Doentes), Khonén-Dalim (Protetor dos Pobres), Éven-Yekará (Pedra Preciosa), Guevúl-Almaná (Asilo das Viúvas), Guemilúth-Khassidim (Obra Beneficente), Maassim Tovim (Ações Boas), Maréi-Néfesh (Pessoas Aflitas), Maskil-el-Dal (Protetor dos Necessitados), Mezón-Habanóth (Alimentação das Órfãs), Meli-Zedaká (Roupas para os pobres), Menakhém-Avelim (Consolo aos Enlutados), Mishéneth-Zekenim (Amparo aos Velhos), Móhar-Habethulóth (Dote para as Donzelas), Nothén-Lékhem-Ladái (Pão para o Pobre), Ozér-Dalim (Auxílio aos Pobres), etc.
Cita ainda a mesma fonte opúsculo do filósofo e economista judeu holandês Isaac de Pinto (1715-1787) que, ao analisar a situação de pobreza de alguns judeus de Amsterdam, onde "800 famílias que vivem ou morrem a nosso cargo", aconselha uma emigração organizada a ser conduzida ao "Suriname, Curaçao, Jamaica, Barbados e outras colônias da América, onde já existissem comunidades judaicas". Deixa de mencionar o Brasil, visto que a comunidade formada na primeira metade do século XVII, havia sido extinta quando da expulsão dos holandeses em 1654.

Estabelecido o governo holandês, muitos cristãos-novos de Pernambuco vieram a declarar-se publicamente judeus, fazendo-se circuncidar, dentre os quais Gaspar Francisco da Costa, Baltasar da Fonseca e seu filho, Vasco Fernandes [Brandão] e seus filhos, Miguel Rodrigues Mendes, Simão do Vale [Fonseca], Simão Drago e muitos outros.

Com a notícia de uma colônia holandesa no Nordeste do Brasil, um grande número de judeus sefardim e alguns poucos ashkenazim resolveram embarcar para a nova colônia. Isso se depreende do grande número de solicitações, feitas ao Conselho Político da Companhia das Índias Ocidentais em Amsterdam, no período de 1º de janeiro de 1635 a 31 de dezembro de 1636, cujo único livro de atas se conservou até os nossos dias.

Na significativa lista de judeus que solicitam transferência para a "terra do açúcar", naqueles dois anos, trazendo consigo suas famílias, se depreende os requerimentos assinados por Abraão Serra, dois filhos e um irmão; Jacobus Abecanar, quatro filhos; Jacob Moreno, com a mulher, desejando estabelecer-se como cirurgião na Paraíba; Pedro de Lafaia, a mulher, dois sobrinhos e duas sobrinhas; a mulher e dois filhos de Diogo Peixoto , cujo marido já se encontrava no Recife; três ourives portugueses Moisés Neto, Isaac Navarro e Matatias Cohen; Arão Navarro e um criado; Abraão Gabid; Miguel Rodrigues Mendes; Bento Rodrigues; Benjamim de Pina; João Carvalho; Abraão Cardoso e Isaac de Cáceres; Daniel Gabilho que ia ao Brasil a serviço de Duarte Saraiva; David Ferdinandus; Simão Gomes Dias e Jacob Serra, com mulheres, filhos e toda a mobília; Rodrigues da Costa e Moisés Franco de Wit; Abraão Serra e um filho de 16 anos; David Levy Bon Dio; Jacob Fundão; Abraão Gabai, com sua mulher, sua mãe e cinco filhos; Moisés Alves; Salvador de Andrade e Davi Gabai "seu camarada"; Isaac da Costa e seu primo Bento Osório; Simão Gomes Dias, sua mulher e uma criada; Jacob Serra e seu sobrinho, Mardocai Serra; Samuel Namias; Jacques Rodrigues e seu empregado, Moisés Rodrigues; David Gabai e Salvador de Andrade; Jacob Rodrigues e Manuel Henriques, com o seu criado Moisés Rodrigues; os comerciantes David Atias, Jacob e Moisés Nunes. Grande parte dos solicitantes pediam à Câmara de Amsterdam passagem gratuita, havendo alguns que se comprometiam em pagar as despesas de alimentação; sendo registrado casos, como Duarte Saraiva, cujo nome judeu era David Senior Coronel e que em 1635 já se encontrava no Recife, de judeus que pagavam todas as suas despesas.





A Rua dos Judeus


Com a consolidação da ocupação de Pernambuco, milhares de judeus aqui se estabeleceram no ramo do comércio, particularmente do açúcar e do tabaco, chegando alguns a possuir engenhos e a dedicar-se à cobrança de impostos e ao empréstimo de dinheiro. Alguns deles dedicavam-se ao comércio de escravos que, trazidos pelos barcos da Companhia da costa da África, eram aqui arrematados em leilões e vendidos a prazo aos senhores de engenho; atividade retratada pelo artista Zacarias Wagener, que viveu no Recife entre 1634 e 1641, no seu "Mercado de escravos na Rua dos Judeus".

Por sua vez, tornou-se crescente o número de judeus que se transferiam para Pernambuco, a partir de 1635, originários principalmente dos Países Baixos, conforme se comprova em depoimentos da época; a exemplo de Manuel Mendes de Castro que, em 1638, trouxe de uma só vez em dois navios 200 deles, entre ricos e pobres, mulheres e crianças ( Gente da Nação p. 218 - 223).

Tal era o número de judeus que chegavam ao Recife que o Conselho Político, em sua reunião de 9 de novembro de 1635, assim decide: "como a extensão e área do Recife é pequena para acomodar os comerciantes livres em suas necessidades e negócios, resolveu-se vender um terreno medindo oitenta pés de comprimento e sessenta de largura [2.434,40 cm. x 1.828,80 cm.], situado fora de portas onde se costuma fazer a 'guarda do bode' ( bochenwacht), ao Senhor Duarte Saraiva, comerciante livre aqui, pelo preço de 450 reais e oito, para que construa uma casa segundo o seu gosto, ou para vender o terreno ou casa e o terreno para seu lucro".

Esse terreno estava localizado fora da " porta de terra ", ao Norte do Recife, no istmo que ligava a povoação a Olinda, e, graças às construções nele realizadas, já a partir de 1636, veio dar origem à Rua dos Judeus, denominação que se manteve até 1654, quando da expulsão dos holandeses de Pernambuco.

Duarte Saraiva, conhecido entre os do Recife e da Holanda pelo nome de David Senior Coronel, judeu português nascido em cerca de 1572 e cujo filho, Isaac Saraiva, era rabino e mestre-escola entre os judeus portugueses de Amsterdam, veio a ser um dos principais líderes da comunidade de então. Na sua casa funcionou a primeira sinagoga, em 1636, antes de ser construído o prédio onde veio estabelecer-se de forma definitiva a Kahal Kadosh Zur Israel , ou seja, a "Santa Comunidade o Rochedo de Israel", talvez em alusão ao próprio Recife; bem de acordo com a visão de outro contemporâneo, o reverendo Joannes Baers (1580-1653), que assim sintetiza a descrição da cidade de então: "o Recife é um arrecife".

Segundo José Antônio Gonsalves de Mello, in Revista do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro , v. 149, Rio 1988, "na Rua dos Judeus residiam aqueles que tinham alcançado as melhores condições econômicas e muitas de suas casas foram construídas pelos proprietários, pois que a área da Rua dos Judeus foi incorporada à cidade após a ocupação holandesa. Nessas casas a parte residencial colocava-se no andar ou andares superiores, ao rés-do-chão ficava a casa de negócio. Vários judeus ricos moravam nessa rua, como Gaspar Francisco da Costa (aliás José Atias), Moisés Navarro, Abraão Azevedo e Duarte Saraiva (aliás David Senior Coronel), dentre outros".




O prédio da sinagoga


Com o aumento da comunidade fez-se necessário uma casa de orações, daí ter-se estabelecido uma sinagoga na casa do capitalista Duarte Saraiva, o mesmo que comprara o terreno "na guarda do bode" e que, segundo o autor de Gente da Nação , "pela sua idade [c 64 anos] e sua ação entre os correligionários, era pessoa prática no judaísmo, um pregador leigo, sendo um dos seus filhos, Isaac Saraiva, haham, isto é, rabino e mestre-escola entre os judeus portugueses de Amsterdam".

É desta época o surgimento da nova sinagoga do Recife, estabelecida no primeiro semestre de 1636, segundo denúncia dos predicantes do Conselho da Igreja Reformada, Schagen e Poel, feita ao Conselho Político em 23 de julho daquele ano: "Em primeiro lugar, observa-se que os judeus que residem aqui começam a estabelecer uma assembléia em forma de sinagoga, o que deve ser impedido" ( Dag Notule ).

Em princípio funcionou a sinagoga em casa alugada, mas, logo depois, veio a ser construído um templo próprio em pedra e cal, possivelmente entre 1640 e 1641, conforme documento enviado ao Conselho dos XIX, com data de 10 de janeiro de 1641.

Em 1839, quando da publicação do Inventário dos prédios que os holandeses haviam edificado ou reparado até o ano de 1654 , manuscrito raríssimo que teve a sua segunda edição em 1940, aparece a indicação local onde funcionou a primeira sinagoga do Novo Mundo: "Umas casas grandes de sobrado da mesma banda do rio, com fronteira para a Rua dos Judeus, que lhes servia de sinagoga, a qual é de pedra e cal, com duas lojas por baixo, que de novo fabricam os ditos judeus". - Hoje, como veremos adiante, a antiga sinagoga ocuparia os prédios de nº 197 e 203 da Rua do Bom Jesus, no bairro do Recife.

A sinagoga estava situada no sexto lote de terreno, construído a partir do norte, funcionando no primeiro andar de um prédio geminado, servido por uma só escada, no qual funcionava no andar térreo duas lojas, bem próxima à "Porta de Terra", que dava saída para o istmo que ligava o Recife a Olinda. Estabelecida no andar superior, o salão da sinagoga, a exemplo da primitiva sinagoga de Amsterdam, tinha encostada à parede da frente, voltada para o leste, a arca com os rolos da Torá e, ao centro, o local de leitura e pregação. - Após a expulsão dos holandeses em 1654, a Rua dos Judeus veio a ser denominada de da Cruz e, a partir de 1870, teve o seu nome mudado para do Bom Jesus.
Nesta primeira sinagoga em terras das Américas exerceu o rabinato o célebre Isaac Aboab da Fonseca que era português de nascimento. Natural de Castro Daire, distrito de Viseu, na Beira Alta, Isaac Aboab da Fonseca nasceu em 1605, tendo emigrado com os seus pais para a França e, em 1612, para Amsterdam. Era filho de David Aboab e Isabel da Fonseca. Tendo estudado nas escolas judaicas daquela cidade holandesa, denominada de " A Jerusalém do Ocidente ", em 1626 foi designado rabino da Congregação Beth Israel, função que ocupou até 1638 quando da unificação de três sinagogas ali existentes. Em 1641 aceitou o convite da comunidade do Recife para vir presidir os serviços religiosos da sinagoga local, construída em 1636, que tinha a denominação de Zur Israel , recebendo para isso o estipêndio de 1.600 florins anuais. Exercia ainda a função de Mohel, ou circundador, e vivia, ao que parece, exclusivamente do culto e do ensino - do hebraico, da Torah e do Talmud - para os que se iniciavam.

Na sinagoga Zur Israel , do bairro do Recife, serviam personagens ilustres como o Hazan (o leitor), Jehosua Velosino; o Rubi (o mestre-escola), Samuel Frazão e o Samas (guarda) Isaac Nehamias, segundo relação do ano de 1649. O famoso erudito Menasseh ben Israel (1604-1657), rabino de Amsterdam, cujo nome português era Manuel Dias Soeiro que esteve para partir para Pernambuco em 1640, onde já se encontrava o seu genro, Ephraim Soeiro, ao publicar a segunda parte de sua obra em 1641, O Conciliador etc. , em quatro volumes (Amsterdam, 1632-51), faz uma dedicatória "aos anciãos da Nação Judaica" do Recife, David Senior Coronel, Dr. Abraão de Mercado, Jacob Mocat e Isaac Castanho.




O berço da literatura hebraica


Com o retorno do conde João Maurício de Nassau à Holanda, em 1644, teve início, logo no ano seguinte, o movimento chamado de Insurreição Pernambucana que, liderado por João Fernandes Vieira e outros representantes da nobreza da terra, visava a expulsão das tropas da Companhia das Índias Ocidentais do território da então capitania de Pernambuco.

O ano de 1646 foi de grande crise para os holandeses e judeus residentes no Recife. Depois das vitórias conquistadas no monte das Tabocas, na Casa Forte e no Cabo de Santo Agostinho, nos meses de agosto e setembro de 1645, os insurretos isolaram o Recife, deixando os seus habitantes sem acesso aos alimentos produzidos na zona rural, o que resultou em grande fome para cerca de 6 a 8.000 pessoas, quando até ratos foram consumidos pela população.

Esse momento de privação é descrito em cores vivas e pungentes na coletânea hebraica sob o extenso título: "Memória que compus acerca dos milagres de Deus e seu imenso favor com graça e misericórdia concedida à Casa de Israel, no Estado do Brasil, quando sofreram o ataque das tropas de Portugal, gente indigna que despreza Seu nome, para exterminar , matar e aniquilar todos que eram de origem de Israel, inclusive crianças e mulheres, num só dia, no ano de 5406 [1946], eu o humilde Isaac Aboab".

Nos seus versos, os primeiros escritos em aramaico e hebraico nas três Américas, descreve o rabino, que "os que estavam habituados a comer à mesa de ouro, davam-se por felizes com um pedaço de pão seco e bolorento, num ambiente agitado. Mas também isso faltou em nossas casas, que faltou o azeite na botija e a farinha na panela acabou"...

A sorte parecia traçada quando, em 22 de junho de 1646, aportaram no Recife os barcos holandeses Gulden Valk e Elizabeth trazendo alimentos para aquela população de esfomeados. Em agradecimento, novamente o rabino Aboab da Fonseca escreveu no estilo bíblico de sua época:

No nono dia do quarto mês [1] dois navios dos Países Baixos trouxeram a salvação para o
meu povo.
Se não tivessem chegado a tempo, ninguém teria escapado.
Gravai tudo isso e estejais lembrados, meus congregados, que naquele dia manifestou-
se o favor de Deus.
Lembrai-vos do caminhar milagroso. Evocai com louvores Seu nome.
Cantarei ao Deus Majestade o dia em que Ele afogou o faraó no Mar
Vermelho e salvou Seu povo.
Seu nome não será esquecido pelos seus descendentes.
Ele nos salvou do campo da morte e sobre nós estendeu a Sua nuvem para
garantir nossa salvação,
E não deixou de iluminar o nosso caminho com Seu clarão e fogo luminoso.
E meu povo cantava caminhando terra afora: não há ninguém semelhante
a Ti, entre os deuses.


Além do poema, deixou Isaac Aboab da Fonseca uma oração, em forma de confissão, quando da chegada a Pernambuco dos regimentos portugueses, em julho de 1645. "Dirigindo-se a Deus confessa seus pecados, isto é, os do povo de Israel, por ter estado voltado para os interesses materiais, para os gozos mundanos esquecido dos mandamentos, tal qual os demais habitantes do país; e conclui por pedir o perdão a Deus misericordioso".

A prece de Aboab da Fonseca, lida na sinagoga da Rua dos Judeus, obrigatoriamente por disposição regimental da comunidade, a partir de então, em dia de ação de graças, tem o título Mi Kamókha ; ou seja, Quem é semelhante a Ti ?.






Quem é como Ti e não há como Ti
Quem se assemelha a Ti e não há semelhante a Ti


Deus dos deuses, Senhor meu. Altíssimo, descansas no meu lar.
Teu nome pronunciarei entre os que crêem. Com cânticos serás lembrado.
Por meus pecados fui abandonado numa nação longínqua. Cumpriam-se, assim, as palavras dos
Teus profetas
Quando precipitei-me abismo abaixo. Feliz aquele que pode dizer que Tu és o seu escudo.
As ondas do mar cobriram minha cabeça. Isto acontecia de acordo com Teu desígnio.
Não reneguei meu Deus. Permaneci fiel à aliança
Unido intimamente. Não me desviei do caminho.
Tuas palavras alegram minha alma. Espero, portanto, por ti.
Todos evocam o Todo Poderoso que poupando a própria ira
Sorriu novamente para o povo eleito por Ti, como predileto.
No ano de 5406, [2]
Manifestou-se o poder terrificante de Tua espada. Tínhamos pecado contra Ti.
Lembrou-se Deus do rei de Portugal, cuja ira nos aterrorizou.
Que Deus se abata sobre os seus nobres e chefes do exército.
Ele tramou aniquilar os sobreviventes, do meu povo e queimar, os meus mais queridos;
Enviou regimentos em perseguição aos meus. Seu coração é pleno de maldade;
Preparou-me uma cilada em combinação com um outro degenerado, semelhante a ele,
Que foi retirado e elevado da imundície para se tornar apoio às suas maquinações,
Conhecido como homem sem coração, um sádico e embusteiro de mão negra,
Cujo próprio pai desconhece seu paradeiro e o tem como um insulto para si mesmo.
Com prata e ouro saqueados, tramava-se astutamente uma conspiração,
A qual meus chefes não davam crédito e ridicularizavam a notícia
Da reunião em blocos de grupos de negros. Quando esta notícia se espalhou,
Ele fugiu sorrateiro para as matas, servindo-lhe de refúgio à escravidão.
Por toda parte, sua gente foi perseguida até que chegassem os tão esperados regimentos,
Ordenados pelo rei, para fazerem o cerco em torno deste solitário.
E a Casa de Jacó tomou-se de ira, com lágrimas, pranto e terror.
Foi designado um dia de jejum e de oração para acalmar a ira do seu Deus.
O terror tomou-me o corpo. Esquecera-me de meu Criador, quando tudo estava bem.
Instintos satânicos seduziram-me e lhes dei atenção.
Saquear meu povo, eis o intento do inimigo. Seu plano é o extermínio dos meus que se
encontram em refúgio,
E nem imaginou que Deus está comigo e que estabeleceu seu lar entre nós.
Medo e pavor assaltaram-me. Senti dores como as de uma mulher grávida.
E o inimigo querendo tirar minha vida, tão cansada e cheia de fé,
Vigia meus passos, amargura-me a vida..
Chegou, porém, o dia que o mar lhe preparara como armadilha,
Quando pensara matar-nos de sede. Deus não quer perdoá-lo.
O anjo salvador ouviu nosso clamor e diante dos nossos sofrimentos rompeu em soluços:
Israel é abandonado pelo seu Deus. Choro e suplico diante d'Ele.
O pastor de Israel é um Deus Poderoso e Aterrorizante que envia salvação para o
seu povo,
Aos inimigos e adversários, um dia infeliz, ao qual não podem opor resistência.
Ó Sempre, Eterno e Onipotente, vem e olha para Teu povo que é vendido como animal,
Forçado a aceitar uma água maldita, Não os ajudarás?
Abre Teus olhos e ouve com atenção. Só, então, descansaremos felizes na Tua bem-aventurada Tranqüilidade,
E com Teu braço forte protegerás os pobres abandonados.

A primeira versão livre do texto em hebraico, escrito no Recife em 1646, foi feita para a língua inglesa, de forma bastante resumida, por M. Kayserling, quando da publicação do seu artigo "Isaac Aboab, the first Jewis author in America", in Publications of the American Jewish Historical Society, v. 5, p. 125-136, Baltimore 1897. No seu artigo, o autor transcreve o texto em hebraico, o que deu condições ao professor Isaac Halper Filho, do Colégio Israelita do Recife, de fazer uma primeira tradução para a língua portuguesa, em 1946, a pedido do historiador José Antônio Gonsalves de Mello, que nos dá uma versão sucinta das orações de Aboab da Fonseca, em seu livro Gente da Nação - Cristãos -novos e judeus em Pernambuco (p. 44)

O manuscrito, anteriormente guardado na Livraria Montesinos, do Seminário Português Israelita de Amsterdam, fundado em 1637, foi posteriormente transferido para a Biblioteca da Universidade Hebraica de Jerusalém, onde hoje se encontra. Por especial obséquio do historiador Elias Lipiner conseguimos cópia do códice do Isaac Aboab da Fonseca, que reúne três partes: a) Poemas litúrgicos em geral incluindo o referente à guerra da restauração. Este seguido de uma prece em prosa, cujo conteúdo é genérico, embora no título se anuncie que foi composto para ser recitado "na aflição pelo ataque contra nós dos exércitos do Rei de Portugal, e que Deus nos pôs a salvo de sua ameaça"; b) lamentações comemorativas da destruição do Templo, e c) resenha especializada da língua hebraica.

De posse da cópia do documento, datado de 1728, e dos originais da tradução feita para o português pelo professor Isaac Halper Filho (1946), solicitei uma versão definitiva do poema e das duas orações de Aboab da Fonseca à Prof. Maria do Carmo Tavares de Miranda. Após alguns meses de trabalho, a mestra desincumbiu-se airosamente da tarefa e sua tradução aparece agora, nas referências ao poema de Aboab da Fonseca, estando também transcrita na íntegra ao final deste trabalho, numa homenagem ao precursor da literatura hebraica em terras da América.

Com a rendição dos holandeses, em 27 de janeiro de 1654, Isaac Aboab da Fonseca retornou a Amsterdam, onde deu continuidade a sua ação pastoral, fundando a atual Sinagoga Portuguesa de Amsterdam em 1675, e transformando-se numa das mais importantes figuras da comunidade israelita do século XVII.

Segundo a inscrição do seu túmulo, faleceu aos 88 anos, em 9 de abril de 1693, na cidade de Amsterdam. Sua biblioteca foi vendida em leilão, logo após a sua morte. Dela constavam 18 manuscritos em hebraico, 373 livros em hebraico e 53 em outras línguas.





A Nova Amsterdam


Após a rendição das tropas da Companhia das Índias Ocidentais, em 27 de janeiro de 1654, cerca de 150 famílias judaicas voltaram aos Países Baixos. Dali algumas delas retornaram ao Novo Mundo, fundando novas comunidades em ilhas do Caribe e na América do Norte. Um desses grupos saídos do Recife, passageiros do navio Valk, depois de aportar na Jamaica, como prisioneiros dos espanhóis, foram libertados pelos franceses e, com eles, rumaram em direção à Nova Amsterdam a bordo do barco Sainte Catherine. Desse grupo, vinte e três judeus já se encontravam na Nova Amsterdam em setembro de 1654, fundando assim a primeira comunidade judaica daquela que veio a ser a cidade de Nova Iorque. Segundo comprovação de pesquisas junto ao arquivo do cemitério da Congregação Shearith Israel, daquela cidade, membros da Congregação Zur Israel do Recife aparecem em documentos da época. Um deles, Benjamin Bueno de Mesquita , falecido em 1683, tem a sua lousa tumular preservada naquele cemitério; Arnold Wiznitzer, in Os judeus no Brasil colonial . São Paulo: EDUSP, 1966. p. 125-126.

Assevera José Antônio Gonsalves de Mello que "Jacob Barsimson - deve ser Jacob bar Simson - , mencionado em documento do Recife, em 31 de março de 1647 ( Dag. Notulen ), foi mais o primeiro judeu a se fixar na cidade de Nova Iorque, para onde foi por via da Holanda". ( Gente da Nação , p. 247).

Por outro lado, intelectuais judeus, nascidos em Pernambuco durante a ocupação holandesa, vieram a ser admirados por seus trabalhos no âmbito da literatura, da filosofia e da teologia. É o caso de Isaac de Andrade Velosino, chamado por Barbosa Machado, in Biblioteca Lusitana , de Jacob de Andrade Velosino, que se declara judeu nascido no Recife em 1639, segundo Sacramento Blake. "Doutor em Talmud e Doutor em Filosofia", foi ele o orador oficial quando da inauguração da sinagoga portuguesa de Amsterdam (1675). Autor de várias obras, dentre as quais Epítome de la verdad de la ley de Moyses , escrita em espanhol, O Theologo Religioso , O Messias Restaurado , além de outras.




O destino da sinagoga


Novamente senhores da terra, o governo português, entre as presas de guerra, fez doação do prédio onde funcionara a sinagoga a João Fernandes Vieira que, cerca de vinte anos depois, o transferiu por escritura de doação, datada de 14 de outubro de 1679, à Congregação do Oratório de São Felipe de Neri. Em 1821, com a extinção dessa ordem, os dois prédios passaram a integrar o patrimônio do Colégio dos Órfãos (1835) e posteriormente a Santa Casa de Misericórdia do Recife (1862), sua atual proprietária. Os prédios, que tinham os números 12 e 14, no século passado, receberam nova numeração no início deste século, passando a ostentar os números 197 e 203. Sua identificação tornou-se possível graças à planta existente no arquivo da Empresa de Urbanização do Recife - URB, encontrada pelo professor José Luiz da Mota Menezes, e de sentença judicial em favor da Santa Casa de Misericórdia do Recife publicada no Diário da Justiça , de março de 1962, que identifica expressamente os dois imóveis. Comunicado neste sentido foi feito pelo professor José Antônio Gonsalves de Mello, em sessão do Instituto Arqueológico Histórico e Geográfico Pernambucano e na Revista do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro , anteriormente citada.

A Rua dos Judeus, por sua vez, passou a ser chamada de Rua da Cruz, em alusão a uma grande cruz erguida sobre o arco da "Porta de Terra", em cujo pavimento superior veio a funcionar a capela do Senhor Bom Jesus das Portas. Em 1850, por necessidade do trânsito, foi demolido o chamado Arco do Bom Jesus, com a sua capela, passando a rua, em 1870, a ser denominada Rua do Bom Jesus em alusão à capela que nela existira.

Em 5 de novembro de 1992, o autor destas linhas, com o consentimento do então prefeito da Cidade do Recife, Gilberto Marques Paulo, e o apoio do presidente do Centro Israelita de Pernambuco, sr. Germano Haiut, fez afixar na antiga Rua dos Judeus as placas indicativas. Coube ao artista Bernardo Dimenstein fazer o desenho e ao ceramista Ferreira confeccionar as placas em cerâmica que foram afixadas no local: Rua do Bom Jesus antiga Rua dos Judeus. 1636 - 1654 .


Apêndice:

Poema de Isaac Aboab da Fonseca,
segundo tradução da Prof. Maria do Carmo Tavares de Miranda

I
Quem como Tu? Quem se assemelha a Ti?

Deus dos deuses, Senhor meu. Altíssimo, descansas no meu lar.
Teu nome pronunciarei entre os que crêem. Com cânticos serás lembrado.
Por meus pecados fui abandonado numa nação longínqua. Cumpriam-se, assim, as palavras dos
Teus profetas
Quando precipitei-me abismo abaixo. Feliz aquele que pode dizer que Tu és o seu escudo.
As ondas do mar cobriram minha cabeça. Isto acontecia de acordo com Teu desígnio.
Não reneguei meu Deus. Permaneci fiel à aliança
Unido intimamente. Não me desviei do caminho.
Tuas palavras alegram minha alma. Espero, portanto, por ti.
Todos evocam o Todo-Poderoso que poupando a própria ira
Sorriu novamente para o povo eleito por Ti, como predileto.
No ano de 5406, [3]
Manifestou-se o poder terrificante de Tua espada. Tínhamos pecado contra Ti.
Lembrou-se Deus do rei de Portugal, cuja ira nos aterrorizou.
Que Deus se abata sobre os seus nobres e chefes do exército.
Ele tramou aniquilar os sobreviventes do meu povo e queimar os meus mais queridos;
Enviou regimentos em perseguição aos meus. Seu coração é pleno de maldade;
Preparou-me uma cilada em combinação com um outro degenerado, semelhante a ele,
Que foi retirado e elevado da imundície para se tornar apoio às suas maquinações,
Conhecido como homem sem coração, um sádico e embusteiro de mão negra,
Cujo próprio pai desconhece seu paradeiro e o tem como um insulto para si mesmo.
Com prata e ouro saqueados, tramava-se astutamente uma conspiração,
A qual meus chefes não davam crédito e ridicularizavam a notícia
Da reunião em blocos de grupos de negros. Quando esta notícia se espalhou,
Ele fugiu sorrateiro para as matas, servindo-lhe de refúgio a escuridão.
Por toda parte, sua gente foi perseguida até que chegassem os tão esperados regimentos,
Ordenados pelo rei, para fazerem o cerco em torno deste solitário.
E a Casa de Jacó tomou-se de ira, com lágrimas, pranto e terror.
Foi designado um dia de jejum e de oração para acalmar a ira do seu Deus.
O terror tomou-me o corpo. Esquecera-me de meu Criador, quando tudo estava bem.
Instintos satânicos seduziram-me e lhes dei atenção.
Saquear meu povo, eis o intento do inimigo. Seu plano é o extermínio dos meus que se
encontram em refúgio,
E nem imaginou que Deus está comigo e que estabeleceu seu lar entre nós.
Medo e pavor assaltaram-me. Senti dores como as de uma mulher grávida.
E o inimigo querendo tirar minha vida, tão cansada e cheia de fé,
Vigia meus passos, amargura-me a vida.
Chegou, porém, o dia que o mar lhe preparara como armadilha,
Quando pensara matar-nos de sede. Deus não quer perdoá-lo.
O anjo salvador ouviu nosso clamor e diante dos nossos sofrimentos rompeu em soluços:
Israel é abandonado pelo seu Deus. Choro e suplico diante d'Ele.
O pastor de Israel é um Deus Poderoso e Aterrorizante que envia salvação para o
seu povo,
Aos inimigos e adversários, um dia infeliz, ao qual não podem opor resistência.
Ó Sempre, Eterno e Onipotente, vem e olha para Teu povo que é vendido como animal,
Forçado a aceitar uma água maldita. Não os ajudarás?
Abre Teus olhos e ouve com atenção. Só, então, descansaremos felizes na Tua bem-aventu-
rada Tranqüilidade,
E com Teu braço forte protegerás os pobres abandonados.


Depois disso, o Terror de Deus
caiu sobre as cidades,
e o cerco foi levantado pelas Leis divinas e eternas.

Eles fugiram sem ser perseguidos, olhos tapados e cérebros embotados
Deus destruíra seus planos e a conspiração diabólica.
Esperei por Deus como o camponês aguarda a chuva. Ele fez retroceder Seu braço.
Meu povo afogava-se no sofrimento. Só Ele podia recompensá-lo.
Se minha esperança fosse em vão e meus planos fossem abandonados, eles se afastariam de mim,
Lançar-me-iam numa prisão sem portas e fechaduras
Determinei que todos fizessem jejum. Talvez consiga purificar-me dos pecados e
Deus, então, me perdoará. Atenderá os que n'Ele esperam.
Confessarei publicamente meu pecado; não o esconderei. Todo aquele que o oculta não será
perdoado.
Minha voz foi ouvida no céu superior. E o suplicante foi atendido.
[Deus] esqueceu Sua ira, porque confessamos que tínhamos pecado contra Ele,
E enviou o seu mensageiro como defensor do Seu povo,
O qual cegou os revoltados fazendo-os retroceder vergonhosamente,
Recuando temerosos e sobressaltados.
E os israelitas, povo predileto de Deus, evocavam e entoavam o Seu nome.
Mas, [o inimigo] não desistiu da luta e dizia que os cercaria e subjugaria,
Sitiando-os, enforcando-os. E Deus via todo o plano armado por ele.
Esforçou-se o inimigo, durante todo o dia, querendo violentamente incendiar os navios
que vinham em nosso auxílio,
E não temia nem Deus, nem Sua ira, nem via que o Seu reino se estende por todo o mundo.
Se não fosse o céu que lutou em favor de minha causa, eu me teria afogado no mar.
Minhas forças diminuíam diante de tantos combates diários e perigos permanentes e ininterruptos,
Lá fora, a espada semeava a morte; dentro era o terror,
Porque há conspiração tanto interna quanto externa.
Bastardos e mamelucos, meus perseguidores e traidores, revelam segredos meus aos inimigos,
E traiçoeiramente querem entregar minha fortaleza. Isso irrita minha alma.
O Conselho reunido decretou o esquartejamento,
Pena de morte e confisco de todos os bens.
Quando a luta se prolongou, fiquei transido de medo,
Porque muitos dos meus eram combatentes. E o pão era escasso.
Doía-me o coração de tanto esperar. Mais a longa demora do auxílio prometido,
E a fome, o racionamento com redistribuição de rações habituais.
O corpo reduziu-se em carne e ossos devido à fome. O pão era pesado e racionado.
Meu povo acostumou-se a substituir o pão pelo peixe, até quando os intestinos se ressentiram.
Este é o dia almejado para assaltar o povo revoltado, disse o inimigo,
Para tomarmos suas casas e todos os seus bens.
Aproxima-se o dia de sua ruína; foram abandonados pelo (seu) deus.
Vemos o seu fim. E nós não tínhamos meios suficientes para vencê-lo.
Deus ouviu tudo isso e ficou irado, mas calmo para com Seu povo,
E cobriu-nos com sua grande bondade. Feliz o povo que conta com Ele.
Esperávamos a Tua bondade. Sabíamos quão forte e poderoso é Teu braço nos momen-
tos de ajuda.
Por isso, farei que Teu povo predileto tenha bem gravado que deve manter a esperança
em Ti, mesmo quando demoras.

No nono dia do quarto mês [4] dois navios dos Países Baixos trouxeram a salvação para o
meu povo.
Se não tivessem chegado a tempo, ninguém teria escapado.
Gravai tudo isso e estejais lembrados, meus congregados, que naquele dia manifestou-
se o favor de Deus.
Lembrai-vos do caminhar milagroso. Evocai com louvores Seu nome.
Cantarei ao Deus Majestade o dia em que Ele afogou o faraó no Mar
Vermelho e salvou Seu povo.
Seu nome não será esquecido pelos seus descendentes.
Ele nos salvou do campo da morte e sobre nós estendeu a Sua nuvem para
garantir nossa salvação,
E não deixou de iluminar o nosso caminho com Seu clarão e fogo luminoso.
E meu povo cantava caminhando terra afora: não há ninguém semelhante
a Ti, entre os deuses.





II
Confissão e Súplicas
reunidas e determinadas por mim para orações nessa época desastrosa,
quando da chegada dos regimentos do rei de Portugal e que vinham
aniquilar-nos, não fosse o Rei e Senhor Soberano que nos salvou.




Senhor do mundo, guardo memória de toda Tua criação, a qual assemelha-se a uma escada que se eleva da terra até o céu. E o Todo-Poderoso permitiu que uma criatura feita de terra pudesse subi-la. Comecei a escalá-la essa escada, mas meus pecados impedem-me caminhar e não permitem que minha alma se fortaleça. Cercam-me por todos os lados; mesmo quando vou à Sinagoga eles me levam para detrás. Porque sou um verme cheio de pecados e maldade, minhas pernas só me favorecem para caminhar até os depravados. Mesmo quando levanto as mãos para os céus, meus pecados enraizados em minha alma são transmitidos até a terceira e quarta geração. Que fazer e a quem pedir ajuda no momento em que minha boca está comprometida com juramentos falsos e as mãos não são senão idênticas às de um gentio? Pensei: minha razão pode guiar-me e ajudar-me para endireitar o torto. Ela me desiludiu. Hoje, cheguei à fonte: indicar-me-á como sair dos meus pecados. Sabia que o Criador não fechara as portas para minha oração. Meus olhos aspiram pelo meu Deus, mas eles se fecharam como se estivessem dormindo, dizendo: como olhos orgulhosos poderão ir até o mais alto? Para Ele vou compor palavras nobres e agradáveis; talvez consiga perdão. Minha boca falou claro: como pode purificar-se um homem impregnado de palavras amargas e de língua suja? Elas testemunham minha impureza e indicam, em oposição, o homem vestido de branco. Meus lábios estão manchados de sangue, de pecados; a linguagem, cheia de palavras ridículas e a boca, obscena. Apoiar-me-ei na minha simplicidade de expressão e de sentimentos, chorando. Talvez consiga perdão. Negaram obedecer-me, lembrando-me que como escravo rebelde e perverso não podia pedir perdão. Dirigi-me à minha alma. Ela intercederá por mim. Ela me falou: como um homem pecaminoso não se envergonha de falar com o Senhor Soberano e pretende apresentar-se diante do Altíssimo, quando ele não é senão um verme da terra, impuro e contaminado, cheio de pecados, de vícios? Ouvindo tais palavras fiquei mudo como uma ovelha, silencioso como um cadáver. Convoquei todos os meus órgãos para curar-me das dores. Minha alma está triste; meu coração descompassado. Orientem-me, preciso de conselho. Indiquem o remédio para minha dor. Aliviem minha tristeza. Respondam-me, aconselhem-me. . . Procura ser justo e modesto; afaste-se dos prazeres e do vício; redescubra a esperança. O justo deseja o bem, a dor o purificará dos pecados, porque Deus é grande e cheio de perdão. Ele é misericordioso para com os humildes e para com os que sofrem. Só Ele pode curá-lo e salvá-lo. Então, você viverá e [também] os seus descendentes. Ouvindo estas palavras consoladoras volvi o olhar para Deus, o misericordioso, sentado no mais alto dos céus, e disse: Deus Aterrorizante e Senhor Soberano, de Ti espero a salvação. Tenho lembrança viva dos meus pecados: roubei, saqueei tesouros alheios, corrompi-me como todos os habitantes deste país, não temi o castigo nem o extermínio. Eis a minha degenerescência e sua genealogia. Sem lembrar-me que Tu és Testemunha e Juiz, desejei todos os prazeres carnais, desviei-me da verdadeira religião de meus pais, desprezei, insultei, esqueci-me das Palavras dos Mandamentos, nem cumpri e nem considerei as advertências divinas. Vícios e imundícies dominaram-me; suborno e roubo teceram meu caminho. Não examinei Tuas ordens nem as dos precursores, mas as desprezei. Amei o perverso e o adulador; ajoelhei-me perante seus deuses, esquecido do Teu Mandamento que diz e proíbe ajoelhar-me diante de outros deuses e fazer imagens. Enganei; fiz falsos juramentos; não observei o sábado; não obedeci as palavras do Mestre que me ensinou a respeitar os pais, ter juízos retos, não matar, não roubar, não abastardar-me sexualmente.
Pequei contra Ti. Como posso purificar-me diante do meu Criador que tudo vê, quando dei testemunho falso?
Pequei contra Ti. Como defender-me da ira de Deus, quando cobicei o alheio, seduzi, menti, enganei, tornei-me igual a todos deste país e a minha conduta não se distingue da deles?
Pelos pecados cometidos diante de Ti, forçosamente obscenidades e intrigas;
Pelos pecados cometidos diante de Ti, voluntariamente participando de todas as festas dos gentios, sem nenhum constrangimento;
Pelos pecados cometidos diante de Ti, involuntariamente correndo atrás de futilidades;
Pelos pecados cometidos diante de Ti, querendo e procurando destruir Tua obra de salvação;
Deus Misericórdia, não te lembres mais das minhas maldades, agora que preciso de Teu auxílio. Tu, Plenitude do Perdão, perdoa-me e perdoa os que, aqui, estão invocando-Te. Amém.






III
Oração
Isaac dirigiu a Deus a seguinte oração


Deus do mundo, Chefe de todos os chefes, de Sabedoria infinita que descorporifica as almas em suas esferas e corporifica as esferas em mundos, Tuas criaturas, envia do alto o Teu sopro sobre nós, o qual como um vento favorável e misericordioso leve à Tua presença nossa oração, e que ela Te seja agradável.
Que Tu respondas o nosso pedido com benevolência, e serão abertas as fontes de água para beber e de alimentos para os filhos do Teu povo. Como Escudo que Tu és, Tu protegerás e defenderás o Teu povo contra os inimigos.
Rei dos reis, Senhor Soberano, pela Força dos Teus Nomes Sagrados, sejam realizados os meus desejos; Fortifica-nos, abençoa toda esta Tua comunidade e seus filhos e mulheres.
O Rei dos reis, Senhor Soberano, vos abençoará, vos defenderá. Estareis sob o cuidado d'Ele contra todas as amarguras da vida.
O Rei dos reis, Senhor Soberano, vos trará a salvação e não sereis abatidos pelo sofrimento.
O Rei dos reis, Senhor Soberano, prolongará vossas vidas e vos livrará das adversidades.
O Rei dos reis, Senhor Soberano, combaterá por vós e exterminará os vossos inimigos.
O Rei dos reis, Senhor Soberano, permitirá que uma tempestade seja hostil para com os vossos inimigos, vindo a fazer naufragar seus navios.
O Rei dos reis, Senhor Soberano, consentirá que os inimigos percam o caminho.
O Rei dos reis, Senhor Soberano, fará cair pedras do alto dos céus exterminando todos os vossos inimigos, trazendo-vos e oferecendo-vos as possibilidades tanto de salvação, de alimentação, de caridade e bondade, quanto de educação e ensino de vossos filhos e de aplicação nos sagrados estudos da justiça e da paz. Amém.


[(*)] Bacharel em Direito pela Universidade Católica de Pernambuco. Jornalista, Historiador e Diretor da Editora Massangana da Fundação Joaquim Nabuco.

[1] Mês de Tammuz, segundo o ano judaico.
[2] Ano Hebraico.
[3] Ano Hebraico.
[4] Mês de Tammuz, segundo o ano judaico.