O QUE ERA PARA SER UMA HOMENAGEM…
Ao terminar os trabalhos no terceiro dia do I Congresso Internacional da Memória Sefardita, as pessoas presentes, com maior informação e sensibilidade histórica, perceberam que Portugal continuará em débito com a História. Isso porque o esperado momento de resgate da memória de um grande homem acabou de forma frustrante e constrangedora.
O dia deveria ser marcado pelas homenagens ao homem que arriscou o conforto e o futuro da sua própria família para salvar famílias judias. Desobedecendo a ordens do Governo anti-semita de Antonio Salazar, o Cônsul em Bordeaux, Aristides Sousa Mendes, concedeu visto de entrada em Portugal a milhares de judeus fugitivos do nazismo. Por sua atitude, Sousa Mendes foi destituído do cargo, afastado sem vencimentos e jogado ao ostracismo. Morreu pobre e desonrado no leito de um hospital público da cidade de Lisboa.
Quem conhece a história de Aristides Sousa Mendes e acreditou na proposta do título do congresso, Memória Sefardita, saiu no mínimo frustrado do auditório do Teatro Municipal da Guarda. Memorial houve, é bem verdade, mas acanhado, restrito e limitado a menos de um quarto de hora de exposição para cada palestrante.
Como reduzir a vida de um gigante da história há exíguos 12 minutos? É o que se perguntava cada um dos palestrantes que se esforçaram para espremer em três ou quatro páginas as décadas de história de um homem ímpar.
Mais constrangedor ainda foi ver o Dr. António de Sousa Mendes, neto do homenageado, segurando um maço de cartas, cartões postais e bilhetes do avô, tesouros que gostaria de compartilhar com a platéia, mas que os fatídicos 12 minutos reduziram a balbucios muitas vezes desconexos.
Condescendente, o público entendeu. No afã de escolher o que havia de melhor – e diante da surpresa de ter que reduzir sua exposição – percebia-se que não foi fácil para ele reorganizar as idéias pré-estabelecidas.
O tema do terceiro painel deste I Congresso Internacional da Memória Sefardita era “A fronteira da vida de Aristides de Sousa Mendes”. E foi justamente isso que aconteceu: Ficamos apenas na fronteira.
Como boa parte dos presentes conhecia bem a história do Cônsul de Bordeaux, estes tiveram compreensão do que cada expositor ali relatou. Mas a organização do Festival provou que Portugal ainda carece de reconhecer o grande, enorme filho que um dia teve.
ARISTIDES POR ELE MESMO
Conheça agora um pouco da história de Aristides de Sousa Mendes narrado na primeira pessoa.
BREVES MEMÓRIAS DE ARISTIDES SOUSA MENDES
Não consigo dormir, viro-me para a esquerda, viro-me para a direita, ora tenho frio, ora calor, ora me tapo, ora destapo. Vivo em Bordeaux e de Lisboa acabo de receber más notícias, proibições. Que horas são? Tenho sede, Angelina [esposa] dá-me água…
Estou sempre a zanzar de um lado para o outro, na cama e na vida. A diplomacia tem destas coisas, não dá tempo para um homem assentar e deitar raiz. Será por isso que eu torno sempre às mais profundas. Em 1908 tentaram cortá-las, no Terreiro do Paço mataram-me el-Rei D. Carlos, também o príncipe herdeiro. Lesa-majestade, lesa-vida… Dois anos depois o 5 de Outubro, bandeiras republicanas são içadas, já definha a História pátria…
César [Sousa Mendes] é o meu irmão gêmeo. Juntos, íamos tomar banho no rio Dão. Juntos, cursamos Direito na Universidade de Coimbra. Nosso pai é juiz. Mas César e eu optamos pela diplomacia, não pela magistratura ou advocacia. Até nas carreiras somos gêmeos. Tomamos o caminho errado? Creio que sim, somos monárquicos e, com a implantação da República, passamos a ser descriminados. Fui Cônsul na Guiana Francesa, 1 ano; em Zanzibar, África britânica, 7 anos. Ali estou sempre doente, também a minha mulher e os meus filhos. Peço para me transferirem. No Palácio das Necessidades de Lisboa, que é o Ministério dos Negócios Estrangeiros, finalmente atendem o meu pedido e mandam-me para o sul do Brasil, sou nomeado Cônsul em Curitiba.
Estamos em 1919, tenho 34 anos. Só por causa das minhas convicções monárquicas o novo Governo de Sidônio Pais, sem mais nem menos, suspende-me de funções. Conseqüências: inatividade, redução brutal de vencimentos e família cada vez maior. É o limiar da miséria, é o desespero. Na Embaixada portuguesa no Rio de Janeiro, César é o Encarregado de Negócios, felizmente. Movimenta-se, consegue que 34 prestigiados cidadãos portugueses, residentes em Curitiba, subscrevam um protesto contra uma campanha miserável movida contra o Cônsul português por criaturas sem vislumbre de senso moral. A iniciativa de César dá resultado: no final do ano suspendem a suspensão. Mas continuo sob mira, e alvo não quero ser. Tudo se agrava, de Lisboa acabo de receber más notícias, proibições…
Quatro anos mais novo do que eu, em Santa Comba Dão, no nosso distrito de Viseu, nasceu um homem que vai dar muito que falar, estou em crer. Também ele cursou Direito na Universidade de Coimbra, mas depois optou por Economia e Finanças, não pela Diplomacia. Em 1910, em Viseu, no Colégio do Cónego Barreiros, durante a sua conferência sobre Educação da Mocidade, ele disse: “A vontade deve ser educada no amor a D’us e ao próximo, no amor à família, à honra e à dignidade, ao trabalho e à verdade”. Estou de acordo. Este moço pode vir a ser uma barreira contra a falta de escrúpulos que submerge a nação. O seu nome? António de Oliveira Salazar. Um dia será alçado a lugar cimeiro do país, prevejo. Mas quando é que ele vai assumir o poder para nos salvar? Tenho pressa…
Não me deixam ficar em Curitiba, não lhes convém, a colônia portuguesa está bem ciente da perseguição que me fizeram. Mandam-me para Cônsul temporário em S. Francisco da Califórnia. Temporário é equivalente a vencimento reduzido e, em dois anos, nascem mais dois filhos meus. Outra vez o limiar da miséria, o desespero. Depois me mandam novamente para o Brasil. Em Agosto de 24 sou Cônsul em São Luís do Maranhão, no norte. E em Dezembro estou a gerir interinamente o Consulado de Porto Alegre, no extremo sul. Interinamente é eufemismo de “corte nos vencimentos”… Cansam-me estas viagens, estas deslocações sucessivas, mas o pior de tudo é a falta de dinheiro. Além do mais, de Lisboa acabo de receber más notícias, proibições.
Em 1926 estou outra vez em Lisboa, presto serviço na Direção-Geral dos Negócios Comerciais e Consulares. A 28 de Maio ocorre o golpe do General Gomes da Costa, é a Ditadura Militar. Para surpresa minha, em Março de 27 sou nomeado Cônsul em Vigo, na Galiza, cargo de muito prestígio. Um amigo meu, funcionário interno do Palácio das Necessidades, diz-me que fui escolhido, por motivo de confiança, pois o regime militar vê em mim o funcionário próprio para inutilizar os manejos conspiratórios dos emigrados políticos contra a Ditadura. Os militares foram gentis, fizeram-me justiça mas estão equivocados a meu respeito: não sou um denunciante, pedras eu não atiro, nem a primeira, nem a segunda, nem qualquer outra.
Sonhar, às vezes é antecipar. Em 1928 Salazar sobe à ribalta, é ele o novo Ministro das Finanças da Ditadura Militar. Com o auxílio do exército impõe novas contribuições, veta despesas públicas, alcança o equilíbrio do orçamento, liquida a dívida flutuante e estabiliza a moeda. Já ninguém consegue arredá-lo, ou ele ou a bancarrota. Em 1930 acontece o óbvio: Salazar, de Ministro das Finanças galga a Presidente do Conselho de Ministros. Talvez possa agora restaurar a monarquia. Poderia, lá isso poderia… Poderia mas não quer, pois sem estirpe nem coroa, quem está a converter-se em soberano absoluto é o próprio Salazar. Metamorfoses. Ilusão, triste ilusão a minha e agora, de Lisboa, acabo de receber más notícias, proibições…
Não correspondo às expectativas dos militares mas eles continuam a prestigiar-me, não sei porquê. Em 1929 nomeiam-me Cônsul em Antuérpia, na Bélgica. Ali permaneço durante 9 anos. Com apenas 50 anos já sou o decano do corpo diplomático. O rei belga, Leopoldo III, simpatiza muito comigo, por duas vezes me condecora. Mas em 38 sou nomeado Cônsul em Bordeaux, França. Peço para ser mantido em Antuérpia, cidade onde fiz tantos amigos. Salazar, para minha consternação, recusa o pedido e sigo para Bordeaux. De Lisboa acabo de receber más notícias…
De outras vezes o sonho converte-se em pesadelo, ânsias, ao acordar a minha apetência é gritar. Em 39 rebenta a II Guerra Mundial. Os alemães invadem a Polônia e os Países Baixos e a França, Paris é ocupada. Depois a horda ariana começa a descer para sul e sudoeste. Vêm aí os assassinos! Milhares e milhares de refugiados de guerra acampam nos jardins do Consulado e nas ruas vizinhas. Franceses, belgas, holandeses, checos, austríacos e até alemães. Judeus, mas também cristãos. Querem vistos para o meu país, querem vistos para a Vida. Mas de Lisboa acabo de receber más notícias, proibições… Com a Presidência do Conselho, Salazar acumula agora a pasta de Ministro dos Negócios Estrangeiros e proíbe que se passem vistos a refugiados de guerra, principalmente a israelitas. Outra vez me desilude o moço… Que faço eu? Acato a ordem do Presidente do Conselho? Impassível, vou então ficar à janela a assistir à matança dos inocentes? Não, não e não! Não sou cúmplice da chacina, vou desobedecer a Salazar, vou passar os vistos e salvar os perseguidos. Tenho de salvar estas pessoas, quantas eu puder. Se estou desobedecendo a ordens, prefiro estar com D’us e contra os homens, que com os homens e contra D’us.
A DEFESA DE ARISTIDES SOUSA MENDES
Quando levas de judeus começaram a entrar em Portugal através da cidade fronteiriça de Vilar Formoso, as notícias rapidamente chegaram a Lisboa. Percebendo que o cônsul desobedecera às suas ordens, Salazar o destitui do cargo.
Segundo o neto, António de Sousa Mendes, a punição administrativa previa suspensão por seis meses e redução em 50% dos vencimentos. Vingativo, Salazar foi além da lei, o que não era difícil para um ditador. Aristides foi destituído definitivamente do cargo e teve todos os salários cortados.
Com doze filhos para alimentar e uma esposa doente, estava condenado à miséria. Sem o cargo e proibido de advogar, estava condenado à desonra. Estas duas deduções foram registradas pelo ex-cônsul num desabafo após o silêncio que se seguiu à reclamação formal junto ao Governo Salazarista: “Não recebo qualquer resposta. Estou, pois definitivamente condenado à miséria e à desonra.”
Leia abaixo a íntegra da reclamação dirigida por Aristides Sousa Mendes às autoridades portuguesas.
RECLAMAÇÃO FORMAL
Em 1945, terminada a guerra, desaparecem os condicionalismos políticos que desaconselhavam a reapreciação do meu processo. Envio carta ao Presidente da Assembléia Nacional. A mim me referindo na 3.ª pessoa, reclamo:
“Tendo-lhe sido enviadas instruções pelo ministro dos Negócios Estrangeiros sobre vistos em passaportes, essas instruções continham na 1ª alínea a proibição absoluta de os dar aos israelitas, sem discriminação de nacionalidade.
“Tratando-se de milhares de pessoas de religião judaica, de todos os países invadidos, já perseguidas na Alemanha e noutros países seus forçados aderentes, entendeu o reclamante que não devia obedecer àquela proibição por a considerar inconstitucional em virtude do art.º 8.º n.º 3 da Constituição, que garante liberdade e inviolabilidade de crenças, não permitindo que ninguém seja perseguido por causa delas, nem obrigado a responder acerca da religião que professa, medida que aliás se lhe tornava necessária para saber a religião dos impetrantes, e assim negar ou conceder o visto.
“Nestes termos, se o reclamante não obedeceu à ordem recebida do Ministério, não fez mais que resistir, nos termos do n.º 18 do art. 8º da Constituição, a uma ordem que infringia manifestamente as garantias individuais, não legalmente suspensas nessa ocasião (art.º 8.º, n.º 19).
“E não se pretenda que a inviolabilidade de crenças não é, segundo a Constituição, um direito para os estrangeiros visados, por não se acharem residindo em Portugal, único caso em que poderiam ter os mesmos direitos que os nacionais (do art.º 7.º) pois não se trata no caso presente de um direito dos estrangeiros, mas de um dever dos funcionários portugueses, que nem em Portugal nem nos seus Consulados, também território português, poderão sem quebra da Constituição interrogar seja quem for sobre a religião professada, para negar qualquer acto da sua competência, o que a admitir-se significaria odiosa perseguição religiosa, mormente quando se impunha o direito de asilo que todo o país civilizado sempre tem reconhecido e praticado em ocasiões de guerra ou calamidade pública.
CONCLUO:
“Não alegou na resposta que deu no mesmo processo disciplinar estas circunstâncias, pelo motivo de, lavrando a guerra na Europa, não querer dar publicidade e relevo a uma atitude, por parte de funcionários do Estado, que sobre ser inconstitucional poderia ser interpretada como colaboração na obra de perseguição do governo hitleriano contra os judeus, o que representaria uma quebra da neutralidade adoptada pelo governo.
“Não pode porém suportar a evidente injustiça com que foi tratado e conduziu ao absurdo, a que pede seja posto rápido termo, de o reclamante ter sido severamente punido por factos pelos quais a Administração tem sido elogiada, em Portugal e no estrangeiro, manifestamente por engano, pois os encómios cabem ao país e à sua população cujos sentimentos altruístas e humanitários tiveram larga aplicação e retumbância universal, justamente devido à desobediência do reclamante. Em resumo, a atitude do Governo Português foi inconstitucional, antineutral e contrária aos sentimentos de humanidade e, portanto, insofismavelmente „contra a Nação.
Pede deferimento (a) Aristides de Sousa Mendes”
TESTEMUNHOS DE JUDEUS SALVOS POR ARISTIDES DE SOUSA MENDES
DEPOIMENTO DE SCHMIL GOLDBERG
Meu nome é Schmil Goldberg. Mas, se quiserem, podem tratar-me por Samuel. Sou judeu e americano. Em 1941 estou em Portugal para dar assistência a refugiados de guerra, trabalho voluntário. Na Cozinha organizada pela Comunidade Israelita de Lisboa tenho a oportunidade de conhecer o Dr. Aristides de Sousa Mendes. Foi ele o diplomata, o Cônsul que, na França, passou milhares e milhares de vistos a judeus fugidos do nazismo. Uns já partiram para a América, outros ainda estão em Portugal.
Também prestamos auxílio ao Dr. Sousa Mendes, pois ele e a família estão muito carentes. Foi demitido, não recebe qualquer pensão do Governo e, apesar de licenciado em Direito, está proibido de exercer a advocacia e os seus filhos foram impedidos de freqüentar a Universidade. O seu irmão, que era embaixador, também foi demitido. Vê-se que Salazar jamais perdoará o gesto humanitário do Dr. Sousa Mendes.
Num povoado do Distrito de Viseu, o ex-Cônsul possui um palácio onde chegou a albergar muitas famílias de refugiados, às quais, na França, passara vistos para entrada em Portugal. Mas, para atender às necessidades da sua numerosa família, foi obrigado a hipotecar todo o recheio. O Dr. Sousa Mendes já não dispõe de meios financeiros para sobreviver, está condenado à miséria.
Temos o dever de auxiliá-lo e auxiliamos. Até lhe proporcionamos condições para que alguns dos seus filhos emigrem para os Estados Unidos e Canadá. Os que lá se estabelecerem mandarão cartas de chamada para os outros, estou certo disso.
DEPOIMENTO DO RABINO KRUGER
Na Polônia já estou acostumado ao anti-semitismo e não me espanta que, no outro lado, na Alemanha, Hitler tome o poder. Pelas ruas de Berlim judeus são perseguidos, espancados e mortos – é o que nos escrevem, é o que nos dizem, é o que lemos, oi gewalt. O meu nome é Chaim Kruger e sou rabino num klein shtatle, [pequeno povoado]. A guerra é inevitável, prevejo, e em breve os nazis estarão aqui. Não é fácil mas, com economias feitas penosamente, com a minha mulher e as nossas seis crianças, em 1938 conseguimos escapar de Varsóvia para Bruxelas.
Em 1939 os alemães invadem a Polônia e, logo a seguir, os Países Baixos. Com a minha família, outra vez estamos em fuga. Chegamos a Paris, mas logo fugimos para sudoeste porque os alemães já estão invadindo a França. Milhares, dezenas de milhares de refugiados, judeus e outras minorias, pejam os caminhos; são antinazis franceses, belgas e holandeses, checos e alemães, também algumas famílias ciganas. Uma, ou duas vezes por dia, caças alemães mergulham em vôo razante sobre as estradas e metralham os caminhantes. Há dezenas de mortos nas bermas [acostamentos], todos eles ensangüentados. Ainda ouço os gritos, choros, lamentações, oi wais mir. Quis D’us que eu, e os meus, tenhamos escapado sempre ilesos, graças a D’us, dank main G-ot. Para fugir à hecatombe, agora a nossa esperança é chegar à fronteira, atravessar a Espanha, entrar em Portugal e dali embarcar para América, onde nossos parentes nos esperam.
Chegamos a Bordéus em Maio de 1940 e a cidade está repleta de fugitivos. Procuro o Consulado espanhol para obter o visto no passaporte da minha família, mas um funcionário diz-me que sem antes obter o visto português não conseguirei o espanhol. Saio meio atordoado com a informação; não entendo o que se passa. Cá fora um francês, também ele refugiado e, ao que suponho, comunista, explica-me:
- Rabino, Franco foi ajudado pelos nazis durante a guerra civil espanhola. É por isso que não quer no seu território fugitivos do nazismo. Só os deixa passar se forem rumo a Portugal. Salazar, o primeiro ministro português, está entalado. Portugal tem uma aliança antiqüíssima com a Inglaterra e um pacto recente com a Espanha. Se hoje pender para os Aliados, será invadido pelos alemães através de Espanha. Se pender para os alemães, a Inglaterra desembarcará tropas em Portugal. É claro que a simpatia do fascista Salazar vai para Hitler. Mas tem que fingir uma estrita neutralidade para evitar a intervenção quer do Eixo, quer dos Aliados. Por isso acredito que Salazar lava as mãos e vai impedir a entrada de refugiados em Portugal. Aliás, o Dr. Mendes já me disse que tem enviado centenas de telegramas para Lisboa, pedindo autorização para dar vistos e até agora não obteve qualquer resposta.
- Quem é o Dr. Mendes?
- É o Cônsul de Portugal em Bordeaux, Dr. Aristides de Sousa Mendes.
Mendes, Mendes… O nome bate-me nos ouvidos, reconheço-o, é marrano, é judeu. Tenho que falar com o Dr. Mendes.
Dirijo-me ao Consulado de Portugal. O jardim e as ruas vizinhas estão repletas de refugiados, todos a aguardar vistos para seguirem viagem, são milhares em desespero. Identifico-me, peço para falar com o Dr. Mendes. Três horas depois sou recebido. É um cavalheiro muito distinto, porém com feições angustiadas. Deve estar a viver uma grande tragédia, bem posso imaginar qual seja ela. Apresento-lhe a minha mulher e os meus filhos, conto-lhe do nosso êxodo de Varsóvia até Bordeaux. Entende o meu sofrimento porque também ele tem muitos filhos, acho que doze.
Convida-nos a pousar em sua casa para darmos algum descanso às crianças. Aceito, agradeço e pergunto-lhe se também ele é judeu. Sorrindo, esclarece:
- Rabino, não se iluda com o meu sobrenome Mendes. Em Portugal a religião do estado é quem nos guia, outra não podemos seguir ou mencionar. Se, por acaso, tivemos um ancestral judeu, não é nada que nos desmereça, mas disso não podemos demonstrar conhecimento.
Errei o alvo. Não sei como continuar a conversa. Engasgo-me. Depois ouso perguntar-lhe quando podemos contar com os vistos para seguir viagem para Portugal. Acabrunhado, diz-me que nada pode garantir, ainda não tem a necessária autorização do seu Governo.
- Então, Dr. Mendes, vamos ficar aqui em Bordeaux à espera da matança?
Levanta-se. Amargurado, segura-me o braço.
- Rabino, tenha fé, nem tudo está perdido, confie na Divina Providência.
Conduz-nos a sua casa, que fica no Quai Louis XVIII, por trás do Consulado. Apresenta-nos à sua esposa, D. Angelina, e a três dos seus filhos mais velhos. Indica os aposentos que nos destina. Deseja-nos um bom descanso.
É um espanto, este Dr. Mendes. Na manhã do dia 17 de Junho de 1940 avisa-me:
- Rabino, sossegue, vou passar vistos a toda gente.
Nos dias 17, 18 e 19, ele e dois dos seus filhos mais velhos trabalham sem parar, nem sequer para almoçar ou jantar, a exaustão. Passam milhares e milhares de vistos, os refugiados já organizados em filas. Os passaportes são coletivos, familiares. No meu constam oito nomes, o meu, o da minha mulher e os dos meus filhos. Assim acontecendo com quase todos, calculo que o Dr. Mendes, nesses três dias, tenha passado uns 30 mil vistos, dos quais 10 mil a judeus, pelo menos.
Não se dá por contente. Obedecendo às instruções que recebera de Lisboa, o Cônsul de Portugal em Bayonne recusa-se a passar vistos aos refugiados de guerra. Porém o Dr. Mendes é seu superior. Desloca-se a Bayonne, que fica junto da fronteira franco-espanhola, e é ele mesmo quem, mais uma vez, passa milhares de vistos. O mesmo acontece com o Consulado de Portugal em Hendaye. Também aí o Dr. Mendes passa milhares de vistos. No dia 24 de Junho o Dr. Mendes mostra-me e traduz-me um telegrama que acabara de receber.
É chamado imediatamente a Lisboa e acusado por Salazar, o Primeiro Ministro português, de “concessão abusiva de vistos em passaportes de estrangeiros”. Depois de 32 anos de serviço, o Dr. Mendes vai ser demitido sem receber qualquer reforma ou indenização, e tem 12 filhos para criar. Já teve 14, mas morreram 2, o segundo e o último, se não me engano. Cuidar de 12 filhos é obra! Eu que o diga, que só tenho 6 e bem sei como custa criá-los. Compadeço-me, voz embargada, ihre mazle, [má sorte a sua]. Mas é ele quem atalha, quem me anima:
- Rabino, se tantos judeus sofrem por causa de um demônio não-judeu, também eu posso sofrer com o sofrimento de tantos judeus…
A grosse Hensche, [um grande Homem], este Dr. Mendes!
DEPOIMENTO DE UM FAMILIAR
Lisboa, 3 de Abril de 1954. Estou no Hospital da Ordem Terceira, na Rua Serpa Pinto. Abro a mala, retiro o lenço, enxugo os olhos. O meu tio, Dr. Aristides de Sousa Mendes, acaba de falecer, trombose cerebral agravada por pneumonia. Sua esposa, minha tia Angelina, morreu em 1948 com uma hemorragia cerebral e ficou vários meses em coma, coitada.
Todos os seus filhos, meus primos, vivem hoje nos Estados Unidos e no Canadá, conseguiram escapar a tempo deste purgatório… Sou eu a única familiar presente. O meu tio era um homem bom, sempre a pensar no bem dos outros. É por isso que morre pobre e desonrado.
HOMENAGEM PÓSTUMA
Em 1967, em Nova Iorque, o Yad Vashem, organização judaica para a recordação dos mártires e heróis do Holocausto em Israel, homenageia Aristides de Sousa Mendes com a sua mais alta distinção: uma medalha comemorativa com a inscrição do Talmud: “Quem salva uma vida humana é como se salvasse um mundo inteiro”. Salazar impede que a imprensa portuguesa noticie o acontecimento.
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GRACIA NASSI
PORTUGAL REVERENCIA DONA GRACIA NASSI
O segundo dia do I Festival da Memória Sefardita foi dedicado a uma das mais impressionantes personagens da moderna história judaica. Precursora da globalização da economia, Dona Gracia Nassi, conhecida entre reis e comerciantes como A Senhora e entre os judeus como O Nosso Anjo, foi uma mulher incomum para o seu tempo.
Nascida em Portugal no início do século XVI, Gracia Mendes Nassi (1510-1569) pertencia à família Benveniste, nobres espanhóis que chegaram às terras lusitanas fugindo da Inquisição Católico Romana.
Ao chegar em Portugal, casou-se com o mais rico ainda, Francisco Mendes-Nassi, dono de uma das maiores empresas de comércio internacional e serviços bancários em todo o mundo.
Ainda jovem assistiu à morte do esposo e, ao contrário do que era de se esperar àquela altura da História, não se resignou ao papel de viúva acomodada a gozar a fortuna herdade. Dona Gracia assumiu o controle dos negócios da família e tornou-se a mulher mais poderosa da sua época.
Judia, viúva e mulher foi alvo de todo tipo de pressão e extorsão, processo que culminou com uma forçada “conversão” ao Catolicismo Romano. À partir de então, adota o nome de Beatriz de Luna Miques e passa a ajudar judeus das mais diferentes formas, gastando parte da sua fortuna no resgate de judeus condenados.
Percebendo que nem mesmo sua influência e fortuna seriam capazes de protegê-la permanentemente, deixa para trás parte considerável de sua enorme riqueza e foge para a Bélgica, estabelecendo-se na riquíssima Antuérpia. Nesta cidade funcionava uma sucursal das suas empresas sob os cuidados de um cunhado chamado Diogo. O escritório belga da Mendez-Nassi tinha conexões com a maioria dos tribunais europeus e em pouco tempo Dona Gracia já compensava o déficit causado nos negócios pelo que deixara em Portugal.
Depois da morte do cunhado novas pressões se abatem sobre Dona Gracia Nassi e ao planejar nova fuga escapa das artimanhas do Imperador Carlos V que tentava apoderar-se da sua fortuna.
Em 1549 empreende fuga acompanhada da filha, de uma irmã, de uma sobrinha desta vez consegue levar a maior parte da fortuna.
À partir de então, a família Nassi-Mendes-Benveniste vai perambular por diversos destinos, incluindo Veneza, Ferrara e Constantinopla (Istambul).
Permanece em Constantinopla até 1552, onde forma um centro de ajuda a judeus marranos perseguidos. Sua fortuna foi utilizada não apenas para gerir as empresas, mas para comprar os favores dos príncipes e reis no sentido de garantir liberdade a judeus perseguidos.
Passa a construir sinagogas, yeshivot e bibliotecas. Retorna à fé dos seus antepassados “reconvertendo-se” ao Judaísmo. Passa a apoiar estudos acadêmicos dos mais diversos e estudantes da Torah em particular. E, claro, ajuda centenas de judeus marranos à retornar à prática do judaísmo.
A história impressionante de Dona Gracia rende-lhe homenagens em diversas partes do mundo ao longo de 2010, quando se comemora os 500 anos do seu nascimento.
Na cidade de Tiberíades, em Israel, existe um museu em sua homenagem, a Casa Dona Gracia. O Diretor Geral e Curador do museu, Tzvi Schaick, esteve na cidade da Guarda onde, durante o I Congresso da Memória Sefardita, fez palestra e prestou homenagem à Dona Gracia na pessoa de uma descendente, Monique Benveniste.
Monique Benveniste preside a Comissão Executiva da Cátedra de Estudos Sefaradistas e a Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa. Ao receber as homenagens disse emocionada que sua família “retornou para Portugal fugindo da perseguição Nazista” que se abateu sobre ela em outras partes da Europa.
“Saímos de Portugal por sermos judeus e voltamos por sermos judeus”, concluiu a homenageada.
A grande falha das autoridades portugueses para com este evento foi materializada com a ausência do Presidente Aníbal Cavaco Silva, a quem foi atribuída a Medalha 500 Anos de Dona Gracia Nassi. Preocupado com a própria reeleição e envolto na mais grave crise econômica enfrentada por Portugal nas últimas décadas, Cavaco Silva preferiu ficar em Lisboa, enviando um assessor para receber a condecoração.
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DESCOBERTAS
PORTUGAL E O NOVO DESCOBRIMENTO
Perdido numa das ruazinhas de Belmonte, entro em um prédio de aparência centenária onde funciona um também velho café. Gostaria de saber onde fica o Museu Judaico da cidade.
Dado a complexidade das vielas, um velho morador sai fora e pede que eu o acompanhe. Está voltando para casa e esta, coincidentemente, fica próxima do Museu. No caminho vamos conversando.
Freqüentar cafés é quase tão religioso para os portugueses quanto ir à Fátima. E na conversa que tenho enquanto caminhamos para o Museu, percebo outra faceta lusitana: o desconhecimento das suas origens.
“O senhor vai até lá, mas não vai encontrar nada”, diz o velhinho. “Pessoas do mundo inteiro vêm até aqui, vão ao museu não sei por que. Lá não tem nada”, conclui.
É verdade. Para quem está acostumado aos grandes museus, o Museu Judaico de Belmonte, embora belíssimo, chega a ser acanhado. Mas, cada peça do seu acervo está impregnada com tanta simbologia que este se agiganta até mesmo frente ao imponente Museu dos Descobrimentos, atração maior da cidade.
A visão do gentil velhinho que me orientou é cada vez mais coisa do passado. As novas gerações estão mudando e nesta mudança estão buscando suas raízes. O auditório do Teatro Municipal da Guarda, onde se realiza o I Festival da Memória Sefardita, estava lotado de jovens que acompanhavam com atenção cada uma das falas. Dispersão apenas quando a professora, embora portuguesa, resolveu fazer sua palestra em inglês. Um ato falho da palestrante. Uma vez que os congressistas de língua estrangeira estavam com equipamentos de tradução simultânea, a platéia não versada no inglês foi pega de surpresa. Os jovens então passaram às conversas paralelas.
Assim que as palestras terminaram, os jovens novamente concentraram as atenções no palco onde, uma vez mais, os músicos Eduardo Ramos e Tiago Jônatas apresentaram Cantigas Sefarditas. Olhando para os jovens, percebia-se que eles se identificavam com a música milenar que ouviam. As Cantigas Sefarditas são acompanhadas por instrumentos completamente diferentes daqueles que embalaram uma multidão no show da banda irlandesa U2 na tournée que por aqui passou. Mas, embora anacrônico, o som que embalou os jovens da Serra da Estrela fascinou tanto quanto o do U2 encantou os jovens de Coimbra.
Portugal está fazendo uma nova descoberta: Está descobrindo suas raízes. Num dos vídeos apresentados no festival, um senhor diz que 70% dos portugueses têm sangue judeu. Andando pelo país chegamos quase que a acreditar nisso. É comum ouvirmos pessoas, mesmo crianças, trocando o V pelo B numa clara interferência da forma como os judeus usam Beit ou Veit. Kfar pode ser Saba ou Sava. Tel pode ser Aviv ou Abib. Aqui não é diferente.
No interior não é difícil encontrar aldeias com nomes ligeiramente alterados como Cadima e Lemede ou referências diretas como o Vale dos Judeus. Na verdade, Israel lateja no mapa português.
E as autoridades portuguesas estão atentas à esta descoberta pós moderna. Se no passado os navegantes singravam os mares em busca de novas oportunidades comerciais, os mares a serem navegados hoje são outros. Com a economia estagnada, caminhando para a recessão, o Turismo pode ser a nova Rota dos Descobrimentos Portugueses.
Na abertura dos trabalhos no I Festival Internacional da memória Sefardita, Jorge Patrão, Presidente do Turismo na Serra da Estrela, destacou a importância de se dar um destaque maior à Rota das Antigas Judiarias, como forma de alavancar o turismo local.
No pequeno – e belo – espaço da Serra da Estrela encontram-se cidades de importância história imensurável para os judeus. Além das emblemáticas Belmonte, Guarda e Trancoso; as freguesias vizinhas formam um cinturão de atrações inesgotáveis. Méda, Figueira, Pinhel, Almeida, Celorico da Beira, Fornos de Algodres, Gouveia, Seia, Manteigas, Sabugal Covilhã e Penamacor começam a ser descobertas pelos portugueses como oportunidades turísticas a serem exploradas.
O número de autoridades presentes na abertura dos trabalhos mostra o quanto a proposta de desenvolver um turismo de matiz judaica é levado a sério. Além do Consul de Israel em Portugal, Ehud Gomer, os trabalhos contaram com a presença do Secretário de Estado da Cultura, do já citado Presidente do Turismo da Serra da Estrela e dos Presidentes das Câmaras Municipais de Guarda, Belmonte e Trancoso entre outros.
Estudos publicados no Americam Journal of Human Genetics (AJHG) dão conta que 30% dos portugueses são de ascendência sefardita. 23,6% na região Norte, onde acontece o Festival, e 36,3% ao Sul, para onde se dirigirão os congressistas nos dois últimos dias do evento.
O estudo publicado no AJHG diz que por cinco séculos os portugueses preservaram “o sangue judaico”. Ou seja, podemos afirmar cientificamente que os judeus descobriram Portugal.
Hoje, olhando para a platéia do I Festival Internacional da Memória Sefardita, constatamos que eles agora estão descobrindo os Judeus.
JUDEUS ASSISTEM A ABERTURA DO CONGRESSO
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FESTIVAL
FESTIVAL SEFARDITA AGITA SERRA DA ESTRELA
Começou ontem, na Serra da estrela em Portugal, o I Festival da Memória Sefardita. O evento foi lançado em uma solenidade no Museu Judaico da cidade de Belmonte.
Conhecida pelos brasileiros por ser o berço de Pedro Álvares Cabral, Belmonte faz parte dos municípios que integram a Rota das Antigas Judiarias da Serra da Estrela. Além da terra de Cabral, estão no roteiro as cidades de Trancoso, Covilhã e Guarda. Esta última sediará as conferências do Congresso que acontece simultaneamente ao Festival.
Em fevereiro deste ano, por ocasião do lançamento do projeto na Feira Internacional de Turismo do Mediterrâneo de Tel Aviv, o presidente da Entidade Regional de Turismo da Serra da Estrela, Jorge Patrão, disse que um dos objetivos do festival será divulgar “a única rota turística judaica organizada em Portugal”.
Na noite desta segunda-feira, 1 de novembro, descendentes de judeus sefarditas originários de Portugal, Espanha, França, Alemanha e de outras partes da Europa, reuniram-se no auditório do Museu Judaico de Belmonte para o lançamento do Festival.
O Museu Judaico, que no ano passado recebeu 17.840 visitas de todo o mundo, serviu de palco também para uma apresentação da mais pura música sefardita. Os artistas judeus Eduardo Ramos e Tiago Jonatas apresentaram um rico repertório no “Recital de Cantigas Sefarditas”. Instrumentos de percussão, típicos da cultura judaica, acompanhados do inconfundível som do alaúde do Oriente Médio, deram à festa um brilho todo especial.
A abertura do Festival, que conta com o Alto Patrocínio do Presidente da República Portuguesa, Aníbal Cavaco Silva, foi um sucesso.
O blog Notícias de Sião, em parceria com o site Cafetorah, estará a semana toda na Serra da Estrela, de onde reportará os momentos mais significativos do evento.
Portanto, à partir de amanhã acompanhe conosco os principais assuntos tratados no I Festival da Memória Sefardita na Europa.
A CIDADE DE BELMONTE
MUSEU JUDAICO DE BELMONTE
VISITANDO O ACERVO
A ABERTURA DO FESTIVAL SEFARDITA
EDUARDO RAMOS E TIAGO JONATAS AO VIVO
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FESTA DO MAL
AHMADINEJAD COMEMORA VITÓRIA DE DILMA
O líder supremo, ditador mor e anti-semita de primeira hora, Mahamoud Ahmadinejad envia carta (que obviamente já estava preparada) parabenizando Dilma Roussef.
NÓS FIZEMOS A NOSSA PARTE. VOCÊ FEZ A SUA?
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MENGELE
Mossad descobriu Mengele no Brasil, mas não o deteve. O serviço secreto de Israel temia que ação provocasse crise diplomática
Reportagem da Folha de S. Paulo deste domingo, 31 de Outubro de 2010, dá conta que o Serviço Secreto Israelense (Mossad) sabia da presença do médico nazista Josef Mengele em solo brasileiro e não o capturou para evitar incidentes diplomáticos. Eles não queriam repetir a operação realizada em 1962, quando capturaram Adolf Eichmann em Buenos Aires, resultando num protesto do governo argentino e a subseqüente expulsão do embaixador israelense.
A reportagem de Marcelo Ninio, desde Jerusalém, diz que o Mossad sabia desde 1962 que Mengele vivia escondido no Brasil e chegou a preparar a operação para prendê-lo.
O plano do serviço de espionagem israelense era repetir o que havia sido feito dois anos antes na Argentina, quando seus agentes capturaram Adolf Eichmann, um dos arquitetos do extermínio alemão de 6 milhões de judeus na Segunda Guerra Mundial.
A revelação é do ex-chefe do Mossad Rafi Eitan, 84, o comandante da operação secreta que levou Eichmann em 1960 para Israel, onde o nazista foi julgado e punido com a forca.
“Fui ao Brasil com outro agente em 1962 e confirmamos que Mengele vivia sob identidade falsa nos arredores de São Paulo”, contou Eitan à Folha. “Na volta, começamos a preparar a operação para capturá-lo, mas o governo acabou desistindo.”
MORTE
Mengele morreu afogado em 1979 em Bertioga, litoral de São Paulo, sem jamais responder pelas atrocidades que cometeu como chefe do serviço médico do campo de concentração de Auschwitz (Polônia), entre 1943 e 1945.
Sua ossada foi encontrada em 1985 no cemitério de Embu das Artes, num das ações policiais mais notórias do delegado Romeu Tuma, morto nesta semana. Mais de 20 anos antes, entretanto, o médico alemão que ficou conhecido como o “Anjo da Morte” pelas experiências sádicas que realizava com prisioneiros já era alvo do Mossad.
Rafi Eitan conta que Mengele estava no topo da lista de nazistas procurados pelo Mossad no fim da década da 50, ao lado de Eichmann e de Heinrich Müller, o chefe da Gestapo (polícia secreta).
A lista fora preparada a pedido do então premiê de Israel, David Ben Gurion, que queria dar ao mundo um exemplo de justiça.
“Ele achava que o julgamento de um alto dirigente nazista no país dos judeus seria a melhor forma de mostrar que a história não se repetiria”, lembra Eitan. Eichmann permanece até hoje como o único réu executado pelo Estado de Israel.
A caça aos demais foragidos não parou depois da captura de Eichmann na Argentina. Segundo Eitan, Mengele foi localizado em 1962 e sua identificação foi confirmada 100% por ele próprio por meio de comparação com fotografias. A partir daí teve início a etapa de coleta de dados para permitir a elaboração da operação de captura.
Mas questões internas e externas mudariam os planos. Entre os motivos da desistência de Israel esteve o receio de que uma nova operação clandestina abalasse as relações com o Brasil.
A captura de Eichmann gerou séria crise com a Argentina, que indignou-se com a violação de sua soberania e expulsou o embaixador israelense no país. Segundo Eitan, Israel não quis correr o risco de que o mesmo ocorresse com o Brasil.
Também surgiram preocupações mais imediatas, entre elas a revelação de que a Alemanha estava ajudando o Egito, na época o principal inimigo de Israel, a desenvolver um programa de mísseis.
“Uma operação de captura exige muito tempo e recursos e nos anos seguintes surgiram outras prioridades, como a Guerra dos Seis Dias [1967]“, diz o ex-espião.
Segundo Eitan, a descoberta de que Mengele estava em São Paulo desde a década de 60 não foi compartilhada com o governo brasileiro porque Israel achava que, se ela fosse divulgada, a comunidade alemã no país daria um jeito de ajudá-lo a escapar. “Decidimos guardar a informação até ter uma chance de agir, mas ela nunca veio”, diz o ex-chefe do Mossad.
Sobre a polêmica em torno da identificação da ossada de Mengele, que foi colocada em dúvida na época da descoberta feita por Romeu Tuma, Eitan é categórico. Segundo ele, amostras do DNA enviadas a Israel comprovaram que o alemão de identidade falsa que se afogou em Bertioga em 1979 era mesmo o “Anjo da Morte”.
Fonte: Folha de S. Paulo
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ESPERANÇA
SENSATO DEPOIMENTO DE UM DOS FUNDADORES DO PT
O posicionamento de um dos fundadores do PT mostra que, a despeito da tragédia ética que se abateu sobre nossa nação, ainda existem brasileiros lúcidos em meio a tanta cegueira. Vale a pena assistir e compartilhar este vídeo.
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PERDA
MORRE ARQUEÓLOGO QUE DESCOBRIU O PALÁCIO DO REI HERODES
O arqueólogo israelense Ehud Netzer, que se tornou conhecido pela escavação do palácio de inverno do rei Herodes e descoberta da tumba do monarca, morreu depois de sofrer uma queda. Ele tinha 76 anos.
A imprensa israelense menciou a morte de Netzer com destaque. O primeiro-ministro Benjamin Netanyahu divulgou um comunicado em que dizia ser “uma perda para a família e para os estudiosos da história de Israel e da ciência da arqueologia”.
Netzer conversava com colegas no sítio arqueológico quando um corrimão de segurança de madeira se partiu e ele caiu a vários metros do chão. A queda ocorreu no domingo e, levado às pressas com ferimentos graves ao hospital, faleceu ontem. O funeral foi realizado nesta sexta-feira, 29 de outubro de 2010.
As descobertas de Netzer ajudaram a expandir o conhecimento sobre Israel do passado, especialmente a história do rei Herodes que controlou a Terra Santa sob a ocupação romana imperial há dois milênios.
Fonte: Associated Press e Agência Folha
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SOPHIE SCHOOLL
VOCÊ PODE FAZER ALGUMA COISA
Quem vai ganhar o segundo turno das eleições brasileiras? Não importa. Do ponto de vista dos “resultados tangíveis”, ou seja, do número de votos que cada candidato ou candidata receberá, alguns eleitores se sentirão vitoriosos e outros experimentarão a sensação de derrota. Entretanto, o que conta aqui não é a vitória ou a derrota de um partido, mas sim a postura dos eleitores, sejam eles vencidos ou vencedores. A pergunta que deveria ser feita por cada um é: Agi da forma correta? Esta é a questão.
UMA HISTÓRIA EXEMPLAR PARA NOS INSPIRAR
Quem assistiu ao impactante filme A Queda, de Oliver Hirschbiegel, jamais esquecerá o depoimento de Traudl Junge, ex-secretária de Adolf Hitler. Numa participação especial no filme, a verdadeira secretária, agora uma octogenária senhora, abaixa os olhos envergonhada e lamenta: “Eu poderia ter feito alguma coisa”.
Durante décadas, Traudl Junge escondeu-se debaixo da desculpa “Eu não podia fazer nada”. Como secretária particular de Hitler, Junge testemunhou seu chefe comandar as maiores atrocidades da história da humanidade. E ela não fez nada. Nem pró, nem contra. Alguns dos documentos responsáveis pela autorização da morte de milhões de judeus foram datilografados por ela. Mas, como mera secretária, era esse seu papel: datilografar. Ela não era soldado, conselheira, nem tão pouco confidente de Hitler. Limitou-se a datilografar. Uma mera expectadora. E isso lhe serviu de desculpa ao longo da vida.
Um dia, entretanto, Traudl Junge passava pelo corredor de uma Universidade quando se deparou com um busto em homenagem à Sophie Schooll. Neste momento, todas as suas desculpas caíram por terra. E foi justamente relembrando este episódio que ela fez o famoso depoimento registrado no filme A queda: “Eu poderia ter feito alguma coisa”.
QUEM FOI SOPHIE SCHOOLL?
Sophie Magdalena Scholl nasceu na cidade alemã de Forchtenberg no dia 9 de maio de 1921. Como cristã, fez parte do grupo estudantil Rosa Branca, um movimento de resistência antinazista. Ou seja, Sophie Schooll vivia na Alemanha de Hitler e fez parte de um movimento contra Hitler! Dá para imaginar a grandeza desta alemãzinha que tinha na época apenas 21 anos!?
Não é preciso entrar em detalhes sobre o clima político e social que cercava o mundo de Sophie, pois todos conhecem os horrores em que estava mergulhada a Alemanha sob domínio Nazista. As tropas das SS e da Gestapo policiavam os mínimos detalhes da vida dos cidadãos alemães e ao medo de se posicionar juntava-se a alienação dos que não estavam informados do que acontecia nos bastidores da política alemã. Ou seja, alienação de uns e receio de outros.
Foi neste contexto que, no verão de 1942, Sophie Schooll ajudou a produzir e passou a distribuir panfletos alertando os universitários sobre os perigos da política nazista.
Além de mostrar os desmandos do Nationalsozialistische Deutsche Arbeiterpartei, o Partido dos Trabalhadores alemão, os folhetos distribuídos por Sophie Schooll traziam textos do Brit Hadashá (Novo Testamento), principalmente trechos do Apocalipse de João. Os folhetos eram distribuídos de mão em mão ou colocados nas caixas de correio das casas de grandes cidades da Baviera, o berço do movimento nazista.
No dia 18 de fevereiro de 1943, Sophie foi flagrada na Universidade de Munique distribuindo o 6º panfleto produzido por seu grupo. Foi denunciada pelo Reitor que passou a monitorar seus passos. Quatro dias depois, em 22 de fevereiro de 1943, foi presa no pátio da Universidade, depois que o Reitor chamou a Gestapo enquanto ela distribuía mais folhetos entre os alunos. Juntamente com Sophie foram presos seu irmão, Hans Scholl e outro universitário chamado Christoph Probst. Levados para a sede da Gestapo passaram por um julgamento que durou apenas 4 horas. Foram decapitados no mesmo dia.
Nos meses que se seguiram, entre fevereiro e outubro de 1943, mais de 50 integrantes do movimento Rosa Branca foram executados por ordem de Hitler.
Passados quase 70 anos do episódio, Sophie School e seus amigos são hoje heróis nacionais na Alemanha. Além do busto e de diversas homenagens que recebe a cada ano por todo o país, há na Universidade de Munique uma singela homenagem aos estudantes mortos: No pátio da Universidade, incrustado no chão, está uma porção de folhetos, esparramados no mesmo lugar onde caíram das mãos de Sophie quando esta foi presa pela Gestapo.
O LEGADO DE SOPHIE
A história de Sophie Schooll – e mais ainda, o lamento de Traudl Junge – deveriam servir de exemplo para os brasileiros sensatos nos dias de hoje. Diante do rolo compressor empreendido pelas forças de um embrionário Estado Totalitário, os brasileiros não deveriam se intimidar! O quem vencerá não importa no momento. O importante é o de que lado eu estou!
Para efeito de “resultados”, Sophie Schooll “perdeu” quando foi calada, presa e decapitada. E Hitler foi comunicado da “derrota” imposta à Sophie. Quem sabe se quem comunicou esta “vitória” nazista à Hitler não tenha sido a própria Traudl Junge.
O tempo passou, a derrotada Sophie Schooll é hoje reverenciada em livros e filmes e o vitorioso Adolf Hitler não é nome de nenhuma praça, rua, beco ou viela em toda Alemanha.
Sua postura nas eleições que se aproxima pode não alterar a ordem das coisas. Independentemente do seu voto, as coisas acontecerão de uma forma ou de outra. Entretanto um dia, no futuro, você terá um encontro com a História. Nesse momento, poderá olhar para trás e, mesmo que derrotado, saber que agiu como uma Sophie Schooll. Ou, envergonhado, baixar a cabeça e lamentar: “Eu poderia ter feito alguma coisa!”
TRAILER DO FILME SOPHIE SCHOOLL: THE LAST DAYS
O QUE VOCÊ ACHA QUE SOPHIE SCHOOL FARIA SE ASSISTISSE AO DEPOIMENTO ABAIXO
Veja mais vídeos sobre o assunto no web-site Matutando (www.matutando.com)
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MANUSCRITOS ON LINE
ISRAEL E GOOGLE IRÃO DISPONIBILIZAR MANUSCRITOS BÍBLICOS
O departamento israelense de antiguidades e o Google anunciaram nesta terça-feira (19) o lançamento de um projeto para divulgar, na internet, os manuscritos do Mar Morto, que contêm alguns dos mais antigos textos bíblicos.
O plano, que custará US$ 3,5 milhões (2,5 milhões de euros) tem o objetivo de disponibilizar gratuitamente esses documentos, que possuem cerca de 2 mil anos.
“É a descoberta mais importante do século 20 e vamos compartilhá-la com a tecnologia mais avançada do século 21″, afirmou a responsável pelo projeto do departamento israelense, Pnina Shor, em uma coletiva de imprensa em Jerusalém.
A administração israelense captará imagens em alta definição utilizando uma tecnologia “multiespectral” desenvolvida pela Nasa. As imagens serão, posteriormente, publicadas na internet pelo Google em uma base de dados. As traduções dos textos também serão colocadas à disposição. Shor afirmou que as primeiras imagens estarão disponíveis nos próximos meses e o projeto terminará em cinco anos.
“Todos os que possuem uma conexão à internet poderão acessar algumas das obras mais importantes da humanidade”, disse o diretor do centro de pesquisa e desenvolvimento do Google em Israel, Yossi Mattias.
Acredita-se que os 900 manuscritos encontrados entre 1947 e 1956 nas grutas de Qumran, no Mar Morto, constituem uma das descobertas arqueológicas mais importantes de todos os tempos. No material encontrado, há pergaminhos e papiros com textos religiosos em hebraico, aramaico e grego, assim como o Antigo Testamento mais velho que se conhece.
Fonte: France Press via G1 (Portal da Rede Globo)
Para maiores informações, acesse o site CAFETORAH clicando aqui.
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